Debruçado nas Mil folhas, livro de estreia do jornalista Carlinhos Santos, fui tragado por uma viagem nostálgica, de volta ao início dos anos 2000. Conheci o Carlinhos em 2003. Ele vinha do Rio de Janeiro e trazia na bagagem uma porção de histórias e referências do mundo das artes, muitos artistas, aliás, que conheci por meio dele, por isso, nossa identificação foi imediata. Por cerca de cinco anos convivemos diariamente na redação do jornal Pioneiro.
Vi nascer não apenas a coluna 3por4, que ainda persiste, apesar de o Carlinhos não mais trabalhar no jornal. Vi nascer também a escrita curta e voraz, por vezes ácida e irônica, entre o contemplativo e o furtivo. Esses microcontos começaram a ser publicados na coluna 3por4 dos finais de semana, no caderno Almanaque. Logo depois, os textos passaram a ser publicados com ilustrações. E quem mais traduziu o universo criativo do Carlinhos sempre foi a Vivi Pasqual, que, não por acaso, ilustra Mil folhas.
Essa viagem no tempo traz consigo ainda outras memórias, também afetivas, das quais compartilho a honra de, não raro, ter lido cada um desses textos antes mesmo de serem publicados. É que, sentado bem ao lado do Carlinhos, na redação, entre um sem fim de trocas de livros, discos e filmes, na época em que carregávamos os objetos artísticos na mochila, eu e Carlinhos também compartilhávamos o que escrevíamos.
Por isso, ler e reler os textos de Mil folhas não apenas ativa a fruição estética e provocativa do que Carlinhos escreveu. Também serve como um portal para quem, como eu, lê Carlinhos desde 2003. E lá se vão duas décadas, que, irremediavelmente, fizeram nascer cachos alvos como a neve na cabeleira do Carlinhos. Duas décadas de uma travessia que parece amadurecer ainda mais cada um desses textos em prosa poética, porém cortantes, como a mais fina adaga.
Vinte anos depois, quis o destino (ou os deuses do Olimpo) que assim fosse, que eu visse nascer o livro que emoldura a obra criativa do Carlinhos. Além dos microcontos, publicados no Pioneiro, o autor compartilha com os leitores uma porção de textos mais estendidos. Organizados na porção final do livro, são editados com o título de Folha nº1, e daí por diante, sem respeito à ordem fria e calculista da sequência numérica.
Ao cabo, o que paira no ar é uma certa incerteza. O que escreve Carlinhos é fruto da observação de um cronista atento aos detalhes, mesmo os mais imperceptíveis. Ou é tudo invenção? Se você, mesmo depois de ler a obra, não conseguir saber por qual trilha o Carlinhos divagou para escrever estas Mil folhas, a sua chance de resolver esse mistério é nesta sexta-feira (22), em um bate-papo que vai rolar depois da sessão de autógrafos.
Pinta lá no Zarabatana Café, a partir das 18h, e troca uma ideia com ele.
PROGRAME-SE
O quê: Lançamento do livro "Mil folhas", de Carlinhos Santos, com ilustrações de Vivi Pasqual. Obra contemplada pelo edital de 2022 do Financiarte.
Quando: Sexta-feira (22), a partir das 18h. Após a sessão de autógrafos, às 20h, ocorre um bate-papo reunindo o autor, a escritora Alessandra Rech e o poeta Marco de Menezes, com mediação do jornalista e escritor Marcelo Mugnol.
Onde: Zarabatana Café (Centro de Cultura Ordovás - Rua Luiz Antunes, 312 - Caxias).
Quanto: O livro custa R$ 30 (50% do valor das vendas será destinado à ONG Construindo Igualdade).