A noite desta terça-feira (15) é para celebrar a vida e obra de duas atrizes fundamentais para a história da cultura brasileira. Carreiras que percorreram caminhos distintos, porém paralelos, atravessando as linguagens de teatro, cinema e televisão.
Laura Cardoso, aos 95 anos, e Léa Garcia, aos 90, continuam a despertar a reverência por onde passam. Nos primeiros dias da 51ª edição do Festival de Cinema de Gramado, elas têm sido recebidas com calorosos aplausos, solicitações para selfies ou até mesmo para abraços emocionados. Sempre com reverência.
— Obrigada, querida — diz Laura, entre tantos afagos, olhando para uma jovem que a procurou, no intervalo de uma das sessões, para falar que a admira.
Léa, apesar de sua dificuldade de locomoção, esbanja simpatia e observa a tudo e a todos com seu olhar cativante. Olhar que atravessa fronteiras, inclusive de língua. Em 1959, lá em Cannes, na França, ainda hoje um dos mais importantes festivais desse planeta chamado cinema, foi indicada ao Prêmio de Melhor Interpretação Feminina, por Orfeu Negro, dirigido pelo francês Marcel Camus, e que recebeu a Palma de Ouro. Naquele ano, Léa foi preterida por Simone Signoret, que venceu como Melhor Atriz, interpretando Alice Aisgill, no filme Almas em Leilão, produção britânica, dirigida por Jack Clayton. O reconhecimento que faltou em Cannes, Léa receberá em dobro, em Gramado.
Laura Cardoso, que vai compartilhar com Léa da mesma alegria, é muito mais conhecida por seu trabalho na televisão. Contudo, filmou com diferentes autores do cinema brasileiro, desde Carlos Coimbra, que a dirigiu em Corisco, o Diabo Loiro, ou, ainda, Tata Amaral, em Através da Janela, ou Marcos Bernstein, em O Outro Lado da Rua, e Walter Salles, em Terra Estrangeira. Não importa se foi protagonista ou apenas uma ponta, Laura sempre deixou sua marca nos filmes em que autuou.
Duas senhoras atrizes, que não apenas atravessaram a marca dos 90 anos, mas romperam barreiras contra um sem fim de preconceitos. Duas mulheres fundamentais para entender não apenas o cinema, mas a sociedade brasileira. Elas entram na história inspirando e abrindo caminho para as novas gerações.