Neste sábado (20) pela manhã, a Biblioteca do Sesc Caxias do Sul recebeu a primeira edição de um projeto que tem tudo para emplacar. Tua avó me contou uma história, como o nome já diz, se propunha a ser uma atividade de contação de histórias, tendo como protagonistas participantes do grupo Maturidade Ativa do Sesc. Apesar de a atividade ser destinada às crianças dos seis aos 12 anos, a família toda se identificou e interagiu.
Geralmente, em contações de história, são usados como suporte livros, seja em uma leitura compartilhada com a plateia ou, em alguns casos, essas narrativas são até encenadas, de mil formas e propostas distintas, nas asas da liberdade e da criatividade. Nesse projeto da Biblioteca do Sesc, contudo, as vovós participantes do Maturidade Ativa resolveram deixar de lado as lendas e histórias dos livros, para narrarem as aventuras de suas vidas. Aventura mesmo, viu!
Sentadas em almofadas, Shirlei Fhingler, 76 anos, Ediles Delagustinhi, 67 e Candinha da Silva Lima, 80, abriram literalmente o livro de suas vidas, contando desde as peraltices até as memórias de infância mais doces, como a saudade da sopa de feijão da vovó.
— Nas férias, meus pais nos levaram para ver os nossos avós, que moravam em São João da Quarta Légua (interior de Caxias). Era uma aventura, porque não tínhamos carro e era longe, tínhamos de subir tudo aquilo a pé. E ás vezes eu pedia colo pro meu pai (risos). Vivi muitas aventuras lá. Aventuras de subir em árvore e também cair e até de quebrar o braço — contou Ediles.
As contadoras de história conduziram a plateia, formada por crianças, mães, pais e avós, por uma trilha sensível, recheada de afetos e lembranças de um passado que ainda está tão presente por causa do amor.
— Eu aprendi a fazer arroz quando ainda era bem criança. Parece que eu tô me vendo pegando a panela e colocando em cima do fogão a lenha. Minha mãe ia dizendo, "corta o toucinho", e colocava na panela, mexia e dizia, "mãe vai queimar". E ela me respondia, "vai nada, agora corta a cebola e coloca dentro da panela". E depois eu cortei a linguiça e ia mexendo a comida, como ela me ensinava. Esse foi o primeiro arroz que fiz e sabe que ficou tão gostoso — descreveu Candinha, como se levasse pelas plateia para dentro da cozinha da casa da sua mãe através do aroma do arroz com linguiça.
Um pouco mais tímida do que suas colegas, Shirlei se emocionou ao falar da felicidade de sua vida. Porque rever o passado nem sempre é fácil. Mas ela prefere investir no presente e agradecer por compartilhar da vida com as bênçãos de Deus e o amor da família.
— Eu faço parte do Maturidade Ativa do Sesc há 10 anos. Tudo que inventaram e eu pude participar eu fiz. Tenho duas filhas maravilhosas, que me deram quatro netas lindas e ainda sou mais abençoada porque tenho dois bisnetos, uma menina e um menino. Pra mim, eles são a razão da minha vida.
Quem perdeu o primeiro encontro e ficou sensibilizado com a proposta, deve anotar na agenda (das vovós em papel e dos netos, no celular). No dia 24 de junho, a partir das 11h30min vai ter nova sessão do projeto Tua avó me contou uma história, na Biblioteca do Sesc, em Caxias do Sul. Se vai ser ainda com a Shirlei, a Ediles e a Candinha, não se sabe. Se vai ser a mesma proposta, também não. Dessa vez, foi assim. Afinal de contas, esse negócio de spoiler estraga as surpresas que só a vida pode nos ensinar.
— Tudo que eu aprendi foi a vida que me ensinou — confidenciou Shirlei.
— Essa sabedoria que temos, né, Shirlei, foi aprendendo a viver o presente. Temos nossas dores, mas temos de celebrar os momentos felizes, que são muito mais numerosos do que os momentos tristes — enfatizou Ediles.
— Me perguntam se eu tenho dor. Claro que eu tenho. Mas o problema é da dor se ela quer vir comigo. Eu nem dou bola — diverte-se Candinha, literalmente dando de ombros às dores da vida.
E que vida. Que vidas. Que histórias de vida!