Toda história, com maior ou menor quilate de excentricidade, que extrai reviravoltas, ora permeadas de crueza de um cotidiano nem sempre afável, ora adornadas de ternura e, porque não, com certo romantismo, todas, em absoluto, viram livro e não raro, estampam cartazes de filmes. Uma dessas histórias, que ainda não virou livro, nem filme, porque está só no começo da tessitura, está acontecendo aqui em Caxias do Sul.
Minha mãe está muito mais motivada do que eu. Todas as fotos que eu faço ela quer publicar em toda parte.
VALENTINA BARRETO
modelo
Imagine a cena. Uma jovem imigrante, recém-chegada com a família da Venezuela, consegue emprego como caixa de supermercado. Em meio a rotina de registrar compras, sempre expressando graciosidade e bom humor, cobrando as contas e entregando o recibo, a imigrante foi abordada.
— Quando eu terminei de atender uma mulher ela olhou pra mim e pediu o meu número de telefone, dizendo que tinha um colega que é olheiro de agência de modelos. Eu não quis dar o meu número. Mas ela disse que essa pessoa era de sua confiança e insistiu, aí acabei dando o meu número. E ela falou que ele ia ligar — conta Valentina Barreto, 19 anos, nascida em Guayana, cidade com 1,08 milhão de habitantes, cerca de 60% dos moradores do Estado Bolívar, na Venezuela.
— Eu não acreditei que ele ligaria (risos).
Encurtando a história, Valentina recebeu o telefonema de Edson Ferreira, olheiro da Cast One Models, de Caxias do Sul. Em dois encontros, o contrato foi firmado. Em pouco menos de três meses, a jovem estreou a campanha outono-inverno do Villagio Caxias e está em vias de fotografar para uma produção de moda a ser publicada no caderno Almanaque, publicação semanal do jornal Pioneiro.
— Minha tia, minha mãe e minha avó sempre falavam que me viam como modelo. Sempre disseram que eu tinha perfil. Mas eu nunca tinha pensado nisso, porque sempre achei que tinha de me dedicar a outras coisas na vida — conta.
— Tu nunca quis ser miss, por que o teu país é celeiro no mundo? — pergunta Sabrina Schülke, sócia de Jaqueline Concer Martins, na Cast One, que estavam à mesa durante a entrevista com Valentina.
— Não! Também, não (risos). Minha família toda se sentava na sala pra assistir ao concurso. E minha tia sempre dizia ao ver uma morena, que me via ali na passarela. Mas eu sempre achei estranha a ideia de desfilar de biquíni (risos) — diverte-se.
Tímida, quem sabe um pouco ainda perdida nesse universo, que é antagônico à realidade em que ela vivia na Venezuela, Valentina conta que o único emprego que teve em Boa Vista, em Roraima, na primeira cidade brasileira onde ela morou com a família, foi justamente em uma agência de modelos. Ironicamente, pelo menos para quem a empregou na Roraima Models, ela entregava folhetos de divulgação da agência. Aqui em Caxias, contudo, ela foi selecionada para o cast da agência, para trabalhar como modelo.
— Atualmente, no mercado da moda, a Valentina tem um perfil que é muito buscado. As morenas são a primeira opção da maior parte dos clientes, tanto do mercado nacional quanto internacional — revela Sabrina.
— O perfil dela, de traços fortes e harmoniosos, é o mais que mais interessa hoje — complementa Jaque.
Quem sabe Valentina não venha muito em breve a estampar campanhas e vestir a moda de alta costura em passarelas mundo afora?
— Gostaria de provar passarela, mas tenho medo, porque ainda não aprendi bem andar de salto. Tenho medo de cair — brinca.
Valentina é na mesma proporção brincalhona e tímida, e não tem receio nenhum de rir de si mesma, nem de descer do salto. Ponto para ela. Porque nesse mercado, exibir-se é tendência.
Confira a seguir o primeiro ensaio que Valentina fez com o fotógrafo Carlos Sillero