Como anunciava a previsão do tempo, a chuva veio. Ela, que tinha dado uma trégua durante o dia, chegou pouco antes dos Titãs subirem ao palco, em Porto Alegre, e ficou até quase o finalzinho do show. Mas não foi capaz de estragar o espetáculo. A banda, em sua formação clássica, entregou tudo e mais um pouco na noite deste sábado (6) na sexta apresentação da turnê Encontro que celebra os 40 anos da banda.
— A gente não é de açúcar — gritou um fã após Sérgio Britto agradecer a presença do público mesmo com a água batendo forte.
De fato, pouca gente parecia estar preocupada com a chuva, mesmo quando ela caia com mais intensidade, e com as poças d’água formadas no estacionamento da Fiergs — embora muitos presentes comentassem antes do show que o local marcado inicialmente, o anfiteatro do estádio Beira-Rio, era bem melhor — a troca, inclusive, a oito dias da apresentação, gerou indignação e reclamações no Procon. Ao todo, segundo a assessoria de imprensa, 15 mil pessoas acompanharam a apresentação.
O atraso de cerca de 15 minutos também causou certa tensão — teve quem vaiou. Mas logo todo mundo já tinha esquecido e estava cantando e pulando ao som dos clássicos titânicos como Diversão, Comida e Televisão. Das 13 músicas do álbum Cabeça Dinossauro, considerado um dos melhores dos Titãs, apenas três ficaram de fora do setlist. Até Igreja, que na época do lançamento, em 1986, deixou muita gente horrorizada com os versos ateus, entrou. Pela cara de algumas pessoas na plateia, ainda hoje causa estranhamento.
O rock and roll prevaleceu ao longo das pouco mais de duas horas de apresentação, embora nenhuma das músicas do Titanomaquia, o mais pesado da banda ao lado de Tudo ao mesmo tempo agora, tenha sido incluída. Em Nome aos Bois, que lista ditadores e reacionários da história mundial, como Hitler e Stalin, a banda incluiu o ex-presidente Bolsonaro.
O show teve espaço para baladas também, claro, com canções consagradas como Epitáfio. Foi no “momento acústico”, com os integrantes sentados, que Arnaldo Antunes trouxe ao palco Alice Fromer, filha do guitarrista Marcelo Fromer, morto após ser atropelado em 2001. Ela cantou Toda Cor e Não vou me adaptar. As guitarras de Fromer, aliás, estavam a cargo de Liminha, produtor de diversos álbuns da banda e que chegou a ser considerado o nono titã.
A homenagem a Fromer emocionou, sem dúvida, assim como Branco Mello cantando após ter retirado parte da laringe em função de tumor. Curado, mesmo com sequelas na voz, fez a chuva se misturar às lágrimas dos fãs. Mas fez também todo mundo dar risada com as dancinhas com o parceiro Arnaldo, como nos velhos tempos.
O show do argentino Fito Paez, na mesma noite e na mesma cidade, não foi esquecido. Não pela plateia. Quando soaram os primeiros acordes de Go back, alguém disse:
— Fito poderia estar aqui cantando junto — se referindo ao Acústico MTV, de 1997, que teve a participação do artista na canção.
A saideira ficou por conta de Sonífera Ilha, primeiro grande sucesso dos Titãs. No início da carreira, inclusive, era o único, e estava na abertura, meio e bis do show. Quarenta anos depois, fica até difícil escolher o que vai entrar no show e certamente teve gente que não ouviu a música que esperava. Com tantos clássicos, muita coisa acaba ficando de fora. O que não ficou de fora foi a energia e a qualidade que conquistaram milhares de fãs. Quarenta anos depois, eles mostram que ainda pulsam.