"Era uma vez… (...) Era uma vez o quê, meu Deus? Era uma vez quem? E quando, e onde era uma vez? É tão difícil escolher, é tão difícil começar".
Ao mesmo tempo em que traz a frase mais clássica das histórias de ficção, o texto acima, que abre a peça O Homem e a Mancha, ajuda a entender do que o escritor Caio Fernando Abreu (1948-1996) trata neste que foi seu último texto para teatro, publicado em 1994. O público caxiense poderá conferir o espetáculo, protagonizado pelo ator gaúcho Marcos Breda, na quinta-feira à noite, no Teatro do Sesc.
Quem, O quê, Quando e Onde são, ao mesmo tempo, questões que um narrador precisa responder ao contar uma história, sendo ao mesmo tempo perguntas que norteiam a busca do ser humano por sua identidade e por descobrir o seu lugar e papel no mundo. E é dessa angústia que Caio cria um protagonista que habita um ambiente onírico, tendo dentro de si outros quatro, entre eles um ator à procura de um personagem, um aposentado solitário que se isola do mundo e um homem obcecado por uma mancha na pele.
Em uma leitura da peça, o próprio autor menciona a inspiração nas mariscas, brinquedo tradicional russo que consiste em uma série de normalmente seis ou sete bonecas colocadas uma dentro da outra. A leitura do texto feita por Caio faz parte da releitura multimídia proposta na atual versão do espetáculo, que Breda estrelou pela primeira vez em 1996 e revisitou durante o auge da pandemia, em versão apresentada virtualmente para um festival da Fundação Nacional de Artes (Funarte), em 2021.
Em artigo no qual analisa a obra, o doutor em Letras Ricardo Augusto de Lima situa bem O Homem e a Mancha no universo criativo de seu autor:
"O homem pós-moderno não sabe mais contar, narrar ou viver uma história. Ela busca com grande anseio a uma coisa perdida, faltante, coisa essa tão frequente nos textos de Caio Fernando Abreu: existe sempre essa coisa ausente que atormenta seus personagens e narradores, que busca algo por vezes sem saber o quê".
No monólogo repleto de metalinguagem e de citações a Quintana, Machado de Assis e Gabriel García Lorca, além de dialogar com o próprio Caio Fernando Abreu, Breda conversa também com sua própria versão dos anos 1990, quando interpretou o protagonista pela primeira vez. Além do ator de 62 anos, que reúne no currículo quase uma centena de trabalhos em cinema, TV e teatro, o espetáculo conta com a direção do crítico e dramaturgo Aimar Labaki, e trilha sonora de Celso Loureiro Chaves.
PROGRAME-SE
O quê: espetáculo O Homem e a Mancha
Classificação: 14 anos
Quando: quinta-feira, às 20h (duração: 50 minutos)
Onde: Teatro do Sesc Caxias do Sul (Rua Moreira César, 2.462)
Quanto: R$ 40 (público geral) e R$ 20 (associados e meia entrada), na bilheteria do Sesc Caxias