No Dia da Visibilidade Trans, Caxias do Sul amanheceu coberta pela neblina. Aos poucos, ainda pela manhã, a cidade, antes praticamente invisível, foi sendo revelada. Curiosamente, o evento climático serviu como metáfora para este domingo histórico. Porque, a partir das 14h, pela primeira vez Caxias do Sul foi cenário da Marcha do Orgulho Trans. Dia de tornar ainda mais visível a luta de homens e mulheres trans, que unidos e unidas, centraram esforços no reforço às atitudes de respeito, inserção e inclusão social deste segmento como uma parcela da população brasileira.
Cleo Araujo, a primeira mulher trans a ser empossada vereadora em Caxias do Sul, e atual diretora da ONG Construindo a Igualdade, uma das organizadoras do evento, disse:
— Nós existimos e resistimos. Importante é saber também que está é a primeira marcha trans do Rio Grande do Sul. Mais uma vez nós, do interior, somos pioneiros. E a inclusão social começa com o respeito de estarmos onde desejarmos estar, seja numa esquina ou no Parlamento, porque nós existimos e resistimos, onde estivermos.
Cleo agradeceu ainda a presença do ex-prefeito Pepe Vargas, atual deputado estadual, lembrando que ele foi responsável por abrir espaço para a Parada Livre, em Caxias. Cleo também referenciou o atual prefeito, Adiló Didomenico que abriu espaço para que ocorresse a primeira mobilização trans em Caxias, sendo representado no evento pela secretária interina da Cultura, Magali Quadros.
Quem também discursou foi o caxiense Shai Kolchonlinski, Mister Trans Região Sul 2023:
— Transexualidade não é modismo ou escolha. Nome Social é um direito. Transfobia é crime. Que minha voz alce pelos ventos e chegue o mais longe possível. Que ela leve amor, empatia, respeito, conforto, apoio. Que eu possa estar sempre nesse caminho de evolução. Buscando, aprendendo, evoluindo e inspirando — defendeu Shai.
MOBILIZAÇÃO
O ponto de concentração da Marcha do Orgulho Trans foi a esquina das ruas Os Dezoito do Forte e Dr. Montaury, bem no centro de Caxias. Logo a seguir, as pessoas seguiram em caminhada em direção ao bairro São Pelegrino, pelas ruas Os Dezoito e na Coronel Flores.
Além das tradicionais bandeiras que caracterizam os movimentos, foram colados pelas calçadas lambe-lambes com os dizeres: “Pelo fim da violação dos direitos à identidade de gênero” e “O Brasil está há 14 anos no topo da lista dos países que mais matam pessoas trans no mundo”.
Nesse percurso, de aproximadamente 800 metros, o público acompanhou ainda apresentações musicais da artista caxiense Amanda e discotecagem do DJ Celô. O encerramento se deu em frente à casa noturna Level Cult, onde estava planejado um aquece para o Bloco Arco-Íris 2023, a partir das 17h.
Seja na concentração bem como em todo o trajeto, a fiscalização de Trânsito da prefeitura de Caxias acompanhou o público e orientou o trânsito de veículos, para segurança dos participantes.
DEPOIMENTOS
“Nós temos de garantir o direito à saúde, à educação, ao trabalho, é fundamental a população trans. Nosso país historicamente nega direitos ao seu povo, mas temos populações que sao ainda mais excluídas, como a população trans. Não é possível que o Brasil seja o país que mais mata trans”.
Pepe Vargas, deputado estadual
“Está previsto o primeiro ambulatório trans de Caxias do Sul. Isso é dar visibilidade e condições para existir e redutor. Ter respeito na saúde, no trabalho, temos de construir espaços de respeito em toda a sociedade para a comunidade trans”.
Magali Quadros, secretária interina da Cultura
SIMBOLISMO
A bandeira do movimento é simbólica. Foi criada em 1999 por Monica Helms, uma mulher trans estadunidense e consiste em cinco faixas horizontais: duas azuis claras, duas rosas e uma branca no centro. Azul e rosa, pois são cores tradicionalmente usadas pela sociedade para representar os homens e as mulheres, respectivamente. E, o branco, representa pessoas não binárias.
Dia Nacional da Visibilidade Trans
Desde 2004, o Dia Nacional da Visibilidade Trans é comemorado no dia 29 de janeiro para celebrar o orgulho, a existência e a resistência de pessoas travestis e transexuais, além de ser data de mobilização por direitos, representatividade e visibilidade.
A data foi escolhida, porque, em 29 de janeiro de 2004, foi lançada, durante um ato no Congresso Nacional, a campanha "Travesti e respeito: já está na hora dos dois serem vistos juntos. Em casa. Na boate. Na escola. No trabalho. Na vida", em parceria com o Programa Nacional de IST/AIDS do Ministério da Saúde.