Oficialmente, o inverno começou há apenas alguns dias, mas na casa de muitas famílias o tempo frio e úmido vem trazendo consequências há alguns meses. Os profissionais da saúde alertam que neste ano as doenças respiratórias vieram com mais força e de forma antecipada, afetando principalmente as crianças. Como resultado, consultórios pediátricos e hospitais lotados, e até falta de algumas medicações nas farmácias. Uma das alternativas para aliviar os sintomas e que pode diminuir as idas ao plantão é a lavagem nasal, prática simples e que vem se popularizando com vídeos e publicações em redes sociais.
A lavagem das narinas com soro fisiológico é uma ótima aliada do público infantil, que tem mais dificuldade de expulsar as secreções, ou seja, assoar o nariz. A medida, contudo, é benéfica e recomendada como um meio de higiene e prevenção de doenças também para os adultos.
A lavagem é capaz de diminuir a frequência, reduzir os sintomas e a duração dos quadros virais
LUÍSI RABAIOLI
Médica otorrinolaringologista
— Muito tem se falado da lavagem atualmente, mas não é uma coisa nova. Desde o século XV já se lavava o nariz, só que nos últimos anos ela ganhou força e realmente temos defendido mais e orientado os pacientes como fazê-la. Quando fazemos a lavagem, o soro empurra os agentes agressores e também estimula o funcionamento do nariz. Diminui inflamação, diminui o inchaço no nariz, age de várias formas... Hoje, no momento que estamos vivendo, onde está todo mundo doente, eu diria que o principal benefício que temos é que a lavagem é capaz de diminuir a frequência, reduzir os sintomas e a duração dos quadros virais — defende a médica otorrinolaringologista, Luísi Rabaioli.
O procedimento é defendido por diversos profissionais da área da saúde. A fisioterapeuta pediátrica Tatiane Paludo, por exemplo, conta que orienta a prática há pelo menos cinco anos:
— A lavagem nasal pode ser uma importante aliada para a fisioterapia respiratória, visto que auxilia na remoção de secreção das vias aéreas superiores, contribuindo na prevenção e no tratamento de infecções respiratórias. Realizo e oriento os pais há cinco anos e percebo ótimos resultados na prática clínica — comenta.
Quem sabe de todos os benefícios da lavagem nasal é a manicure Barbara Mack. Mãe do pequeno Arthur Mack Pistorello, um ano e cinco meses, ela recorda que começou a fazer a higiene das narinas do bebê quando ele tinha oito meses por indicação da pediatra e da fisioterapeuta que o acompanham. Geralmente, a medida é feita duas vezes por dia, mas quando há muita secreção e desconforto, a lavagem é repetida por até cinco vezes no pequeno:
— Começamos a fazer a lavagem nasal depois da primeira crise respiratória dele. Como acostumamos o Arthur desde pequeno, ele aceita a lavagem bem tranquilo — relata.
Abaixo, a reportagem preparou um tira-dúvidas com a ajuda das profissionais para as famílias que desejam iniciar o procedimento em casa. Confira!
Quando começar?
De forma geral, não há uma idade mínima para se iniciar a lavagem nasal, mas as recomendações variam entre os profissionais. A fisioterapeuta Tatiane Paludo costuma recomendar a lavagem com uso da seringa e do soro fisiológico 0,9% para crianças a partir de 5 meses. Antes disso ou sempre que surgir alguma dúvida, ela solicita que os pais busquem informações junto aos profissionais de referência do bebê sobre a melhorar maneira de se fazer a higiene das narinas.
— A partir de 5-6 meses de vida as crianças começam a ter um melhor alinhamento e controle de tronco (coluna) e, desta forma, após orientação, os pais se sentem mais seguros para realizarem sozinhos — explica.
Também, segundo Tatiane, há casos que precisam de mais atenção por parte dos cuidadores.
— Algumas crianças podem necessitar de orientações especializadas e podem até ter contraindicações para lavagem nasal. Alguns casos para conversar com o profissional de referência antes de realizar: crianças que usam sonda para alimentação, com malformações na face...
Quais os cuidados principais?
A médica otorrinolaringologista Luísi Rabaioli orienta que a criança deve estar sempre acordada, nunca deitada ou irritada demais durante o procedimento.
— Sempre devemos fazer a lavagem nasal com a criança acordada e sentada. Mesmo que seja pequeno, coloca um travesseiro nas costas, apoia no colo. O cuidado principal é que não precisa usar força. Os jatos com pressão podem causar desconforto e machucar — afirma.
O cuidado principal é que não precisa usar força. Os jatos com pressão podem causar desconforto e machucar
LUÍSI RABAIOLI
Otorrinolaringologista
Tatiane acrescenta que a seringa deve ser de uso individual, com preferência aos modelos sem ponta (na internet também é possível encontrar modelos com ponteiras próprias para a lavagem do nariz). O objeto deve ser higienizado a cada utilização.
Há risco de a lavagem causar otite?
— Pode acontecer de, quando usar muita pressão, a criança sentir um desconforto no ouvido. Mas isso se resolve em poucas horas (por isso a recomendação de não utilizar força na seringa — o jato deve ser contínuo e lento). E, na verdade, para alguns tipos de otite a lavagem é tratamento, porque a causa dela, muitas vezes, está ligada a um nariz cheio de meleca, superobstruído e isso afeta o funcionamento do ouvido. Então, se o nariz está funcionando bem, também estamos prevenindo a otite — aponta Luísi.
E se engolir o soro?
Nem sempre o soro sairá na outra narina e isto não quer dizer que a lavagem não está funcionando. Se a criança engolir o líquido, não há problema.
— Pode engolir, mesmo que tenha um pouco de secreção, sem nenhum problema. Não vai trazer complicação — garante a otorrinolaringologista.
Pode usar água?
Não. A água da torneira ou mineral pura não é recomendada para a lavagem nasal. Além disso, o soro utilizado nunca deve estar gelado. A orientação é usá-lo na temperatura ambiente ou levemente morno.
Qual o volume de soro utilizar?
Não há um consenso entre os profissionais. Porém, para os bebês menores, a recomendação é começar com 1 ml de soro em cada narina. Conforme a criança for crescendo e tolerando melhor a prática, o volume do líquido pode ser aumentado gradativamente.
— Não existe uma regra definida. Para os bebês bem pequenos, eu sugiro não usar a seringa, optar pelo conta-gotas ou aqueles sprays prontos. E, quando começar a usar a seringa, já maiorzinho, pode começar com 1 ml. Se foi tudo bem, acostumou, perdeu o medo, aumenta mais um e assim vai. Não precisa grandes quantidades de uma vez só. Pode repetir, sem medo — orienta Luísi.
Passo a passo da lavagem nasal
1
Primeiramente, separe os materiais: uma toalha de banho; soro fisiológico 0,9%, aquecido*(de 5 a 10 segundos no micro-ondas) e uma seringa com rosca. A toalha será utilizada na frente da criança, para não molhá-la.
2
Com a criança firme no colo de um familiar/cuidador e com a cabeça reta ou inclinada para frente, realize a lavagem nasal. Faça de forma continua e lenta, não realize com alta pressão.
3
A sugestão é lavar duas vezes seguidas em cada narina, dependendo da quantidade de secreção que estiver irritando a criança.
4
Em crianças menores, os pais podem associar o uso de sugador nasal após realizar a lavagem. Os maiores podem assoar o nariz.
*Importante sempre testar a temperatura do soro antes de fazer a lavagem nasal.
Fonte: Fisioterapeuta e Mestre em Ciências da Reabilitação Tatiane Paludo.