A combinação de arte e cores levou mais vida para o bairro Euzébio Beltrão de Queiroz, em Caxias do Sul, no final de semana. De olho no trabalho dos grafiteiros que participam do projeto Mosaico da Quebrada, os moradores experimentaram dois dias tão diferentes quanto agora está o cenário da vizinhança que habitam, no entorno do Estádio Centenário. Embalada pelo som do rap e pela euforia da gurizada, a comunidade foi presenteada com a iniciativa capitaneada pelo rapper e educador social Chiquinho Divilas, e pela arquiteta e presidente do Instituto Samba, Jéssica de Carli. Foram 15 muros e paredes coloridas por 22 artistas de diversas cidades gaúchas, e também do Rio de Janeiro e de São Paulo.
– Eu moro aqui há 30 anos, e nunca tinha visto esse lugar tão bonito e tão claro. Antes era muito escuro. Foi uma bênção, porque a gente não tem condições de pintar, ainda mais assim, com tantas cores diferentes. Eu varro a rua diariamente para deixá-la mais agradável para quem passa, e agora vou ter esse orgulho de ver as pessoas passando e tirando foto das casas da gente. Dá mais vontade de viver quando a gente gosta do lugar em que mora – comenta Maria de Fátima Padilha, moradora de uma das casas grafitadas.
A aposentada Maria de Lourdes Frigeri, embora não tenha tido a própria casa colorida, fez questão de pedir para alguém levá-la para a rua – ela é cadeirante – para assistir os artistas trabalhando nas casas vizinhas.
– É uma maravilha receber a visita dessa gente tão talentosa. Nosso bairro está ganhando outra cara – comemora.
Além dos grafiteiros selecionados entre mais de 100 que se inscreveram no edital, houve quem apareceu de última hora para oferecer uma contribuição. Afinal, muitos moradores só procuraram o curador da iniciativa, o artista Gustavo Gomes, após o início dos trabalhos. Pessoas que anteriormente não haviam concordado ou se interessado em ter sua casa colorida, mas que mudaram de ideia ao ver a arte em progresso na vizinhança.
– A gente veio para ver a galera e dar uma força, porque é uma cena muito unida, especialmente aqui na região. Quando chegamos, já tinha um muro pra gente trabalhar – comenta o grafiteiro Bernardo Duarte, morador de Bento Gonçalves assim como o colega de tintas, Pablo do Rosário.
Além da cooperação entre os artistas, o caráter social da iniciativa, que também ajuda a despertar o interesse das crianças pela arte urbana e seu universo, que inclui música, dança e poesia, foi o que chamou a atenção do artista porto-alegrense Kelvin Koubik:
– Já tinha vindo a Caxias para participar de um concurso de empenas (arte em laterais de prédios, sem janelas) e para trabalhos mais comerciais, mas é a primeira vez que participo de algo dentro da comunidade. É algo que eu já queria fazer há bastante tempo e foi muito legal. A gente começa sentindo que há um certo receio dos moradores, mas logo essa barreira cai e rola um acolhimento muito grande.
O projeto tem como objetivo a pintura de 100 residências até março de 2023, com recursos já aprovados da Lei de Incentivo à Cultura (LIC) estadual. Para chegar no número desejado, a etapa, que já tem 25 casas pintadas, busca a captação de recursos com o empresariado caxiense.