A estudante de Caxias do Sul Nicole Boff Casagrande, 14 anos, não titubeia na hora de defender seu hobby preferido:
– A literatura representa tudo para mim. Leio quando quero um escape para os meus problemas. Sou uma panfleteira de carteirinha dos escritores que eu gosto.
Cursando o nono ano na Escola Municipal Padre João Schiavo, em Fazenda Souza, interior de Caxias, ela deu um jeitinho de explorar sua maior paixão quando desafiada pelo professor Fernando Menegat a participar de uma mostra científica. Foi assim que nasceu o Leitura-te, projeto no qual Nicole incentiva a leitura com atenções focadas aos escritores nacionais. Desde julho, ela tem compartilhado entrevistas com autores convidados por meio do perfil na rede social Instagram @leitura_te.
A estudante já abriu espaço para 20 escritores, a maior parte deles na faixa dos 20 e poucos anos.
– Para atingir o público mais jovem, tento chamar autores jovens. Penso que pode ter mais chances de o pessoal se identificar com eles – justifica.
Todos os participantes respondem a um questionário padrão, que inclui perguntas como “qual seu objetivo no mundo literário?”, “qual a maior dificuldade de ser escritor hoje, no Brasil?”, “para um jovem que decide ingressar no mundo da escrita, você indica algum método?”, entre outras.
Depois, tudo é compartilhado na rede social, junto com a sinopse de alguma obra do autor, entre outros dados. Além de incentivar outras pessoas a conhecerem esses criadores, Nicole conta que o contato com os autores impactou positivamente em sua própria percepção de mundo.
– Eu aprendo muito com eles. A entrevista da Mary Dionisio (carioca autora de Como eu não me apaixonei por você) foi uma das mais incríveis. Ela é uma escritora negra e bissexual, então traz uma representatividade grande para as histórias dela. Quando perguntei sobre missão, ela falou que queria tornar o mundo literário “mais representativo para meninas negras, para que elas lessem as histórias dela e percebessem que todo o amor do mundo é delas por direito”. Nunca vou esquecer disso, me marcou muito – conta Nicole, fã de livros de romance e de fantasia.
Além de Mary, o Leitura-te já mostrou outros jovens escritores como Ariadne Pinheiro, Nathalia Santos, Mark Miller, Fernanda Freitas, Clara Alves e Pedro Guerra (colunista do jornal Pioneiro, com crônicas quinzenais). O projeto também ganhou visibilidade ao conquistar o primeiro lugar da Mostraseg, da Universidade de Caxias do Sul (UCS), na categoria ensino fundamental. Ela também estará na Mostratec Júnior de Novo Hamburgo, que ocorre nesta semana.
– Ganhar a mostra foi muito legal, mas meu objetivo segue sendo o de apresentar os livros nacionais a cada vez mais pessoas. Porque os livros nacionais mudaram a minha vida – defende Nicole, que também pensa em se aventurar pelo mundo da escrita um dia.
Uma particularidade do Leitura-te é que, apesar de estar locado no ambiente digital, Nicole não tem acesso à internet na casa de sua família, que fica bem no interior da localidade de Fazenda Souza. Para criar as postagens do perfil literário, ela precisa ir até a casa da avó. Esforço compensado com a chance de defender a bandeira na qual ela mais acredita: a literatura.