A bicicleta é instrumento tão importante quanto a câmera para o fotógrafo porto-alegrense Anderson Astor, cujos trabalhos documentais frequentemente são feitos a bordo de duas rodas. Pela primeira vez, Astor irá pedalar pelas estradas e cidades da Região da Uva e do Vinho, a fim de conhecer e retratar pessoas e situações para um trabalho futuro. Essa, pelo menos, é uma das ideias que espera desenvolver como um dos convidados para a residência artística oferecida pelo Instituto Cultural Torus, em uma propriedade rural no interior de Garibaldi.
A quatro quilômetros do centro da cidade, o sítio da família Cattani serviu como granja para o avô de Laura Cattani, uma das idealizadoras e diretoras do Torus, até o início da década passada. Artista plástica, pesquisadora e professora universitária, Laura também é filha de artista: Sua mãe, Icleia, é professora do Instituto de Artes da UFRGS, como também foi sua tia, Maria Lúcia Cattani (1958-2015), expoente da chamada Geração 80 de artistas plásticos brasileiros. Laura comenta que a mudança radical na atividade tem a ver com a veia familiar:
– A gente queria que a propriedade continuasse produtiva, e nossa produção é a arte. Uns anos atrás tive a experiência de fazer uma residência artística em Montevidéu e foi um ponto de virada na minha carreira. Também acendeu o desejo de poder compartilhar isso, de estar imerso num lugar totalmente diferente do nosso cotidiano, com outro ambiente e outro tempo das coisas.
A residência artística é parte do projeto O tempo como verbo, aprovado em edital estadual com recursos da Lei Aldir Blanc, que prevê o lançamento de diversos produtos artísticos, principalmente nas redes sociais. Ainda em fase de estruturação, o Torus quer marcar presença em editais de fomento para promover interação constante entre artistas, tendo a Serra como espécie de um brainstorm vivo.
– Não é um lugar para a pessoa se isolar, até porque todo mundo já está cansado de tanto isolamento. É um lugar para construir interfaces como pensar a paisagem, pensar a população local, a cultura da região. O artista não precisa vir aqui e sair com uma obra pronta. A gente quer justamente tirar essa pressão e propiciar que ele tenha ideias. Uma característica do artista contemporâneo é se interessar por absolutamente tudo, e essa é uma região muito rica em informação cultural – explica Munir Klamt, parceiro de Laura à frente do Torus.
Além de Anderson Astor, que chegou a Garibaldi na última terça-feira, os outros três convidados são a artista visual Letícia Lopes, de Campo Bom, e Ricardo de Carli, músico e realizador audiovisual de Porto Alegre, que já cumpriu com o seu período. Anderson, que além de pedalar planeja realizar experiências com fotografias noturnas dos plátanos da propriedade, experimenta a primeira residência artística em sua carreira.
– Acho importante pensar como uma oportunidade de explorar ideias que dialoguem com o lugar. Faria menos sentido vir para cá fazer o mesmo trabalho que eu poderia fazer em casa, mesmo que aqui permita uma concentração maior. O que esse lugar tem de diferente que possa justificar minha ida para fazer um trabalho? – reflete.
As novidades do Instituto Cultural Torus, incluindo as percepções dos artistas convidados sobre a experiência na Serra, podem ser acompanhadas pelo perfil @torus.arte, ou na fan page /torusinstitutocultural, no Facebook.