O processo urbanístico ocorrido na área central de Caxias do Sul foi compartilhado pelas principais cidades brasileiras ao longo do século 20. Uma intensa valorização imobiliária nas primeiras décadas gerou a verticalização e densificação, a partir dos anos 1970. Em 30 anos, boa parte do estoque de prédios dos séculos 19 e 20 foi substituído por um novo tecido urbano, denso e verticalizado, de acordo com o professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Luiz Merino Xavier.
O professor aponta que essa verticalização abusiva, sem controle de qualidade do espaço e do conforto da população, sem previsão de vagas de estacionamento, por exemplo, trouxe rapidamente consequências negativas:
– O espaço central se degrada com as dificuldades crescentes de acessibilidade. A desvalorização é acompanhada pelo êxodo da população de alta renda, bem como do comércio sofisticado, dos profissionais liberais e dos escritórios. As tipologias residenciais da década de 1930, 1940 e 1950 não correspondem mais às necessidades do mercado imobiliário. Apartamentos com pouca iluminação e ventilação, instalações sanitárias deficientes, circulações verticais subdimensionadas, ausência de instalações contra incêndio e de garagens acabam por decretar a falência da residência no Centro – avalia.
O professor adverte que a consequência urbanística é o esvaziamento fora dos horários comerciais. Com menor número de residências, desaparecem as atividades de lazer complementares e as ruas tornam-se desertas a partir do fim do horário de expediente e aos finais de semana.
Xavier lembra que o processo de reabilitação urbana é complexo. Deve envolver ações que resgatem, de um lado, as memórias que estão se perdendo, os antigos vínculos afetivos e, por outro lado, que construa afetividades entre o espaço e seus novos usuários.
– Num processo de requalificação urbana, deve-se levar em consideração que a área central guarda um acúmulo inestimável de informações históricas e de marcos de sua evolução. Há nela uma riqueza de referências culturais, pois ali estão contidas imagens de todos os diferentes tempos da cidade. Hoje, por ali circulam diariamente pessoas de todos os bairros de Caxias do Sul e das cidades vizinhas. Tudo isto faz do Centro o principal ponto para ações que visem promover a cidadania e a identidade urbana – afirma.
Requalificar os espaços centrais, restaurar os prédios, praças e monumentos, reverter a degradação física e reforçar a segurança dos usuários, mas sem segregação, permitindo que todos tenham acesso ao pleno uso dos espaços, é um desafio permanentemente colocado para os futuros arquitetos e urbanistas.
A Casa&Cia, com curadoria do também professor da UCS Erinton Aver Moraes, reuniu para a presente publicação contribuições desenvolvidas pelos alunos em seus trabalhos de conclusão de curso. Aver destaca que esses projetos buscam ou a qualificação do Centro, trazendo mais vitalidade urbana, ou a melhoria dos fluxos de circulação, ao propor novas centralidades para a cidade.
Ao visitar o Bairro Rio Branco, se vê em destaque seu símbolo principal: a Igreja Imaculada Conceição. A área, carente de espaços públicos, tem como principal demanda locais de manifestação social, que viabilizem o vínculo dos moradores com o bairro a partir do resgate de memórias afetivas. Assim, propõe-se para o Complexo dos Capuchinhos um plano que possibilite a permeabilidade e a continuidade do espaço público, estimulando a vitalidade urbana e revisitando o patrimônio por meio de atravessamentos do presente, fornecendo subsídios para novas perspectivas de espaços de uso coletivo.
Aluna: Thaise Zattera Marchesini
Orientadora: Nicole Rosa
Esta outra proposta de Mercado Público de Caxias do Sul conta com bancas voltadas tanto para o interior da edificação como para o exterior, e está localizada entre a Rua Machado de Assis e a Av. Perimetral Bruno Segalla, no bairro Floresta. Com o propósito de contribuir para a vitalidade urbana, a nova praça e mercado aliam-se à EPI Floresta, importante equipamento de transporte, que está inserida num local com baixos atrativos e reduzido trânsito de pedestres. Com o projeto, busca-se a criação de caminhos e espaços de permanência, onde praça e mercado atuam como um grande espaço público de bordas fluidas.
Aluna: Rafaela Cassol
Orientador: Rodrigo Salvati
Os antigos pavilhões industriais em desuso, localizados no centro da cidade, configuram espaços inseguros e subutilizados, tal como a antiga Cervejaria Pérola, a primeira de Caxias do Sul, para a qual se propôs um complexo cultural, cervejeiro e gastronômico. Novos usos e edificações ofertam áreas de lazer e integração, valorizando a história do local e da cidade, a partir da ressignificação do espaço, que atua como catalisador de mudança no caráter do local e dos bairros que o cercam. Com o aumento do fluxo de pessoas na região, cresce a segurança, por meio da vigilância passiva, caracterizada pela diversidade de usuários. E a vitalidade urbana proporcionada oportuniza maiores investimentos na área, criando um ciclo virtuoso no local.
Aluna: Pamela Cavagnoli
Orientadora: Greice Portal
Reconvexo é um projeto que se debruça sobre duas escalas. Em um primeiro momento, é feito o diagnóstico da área com potencial de intervenção, neste caso, resultado do processo de desindustrialização no Centro. Posteriormente, elabora-se um plano estratégico, costurando a proposta ao entorno e requalificando a quadra, para então desenvolver um complexo multifuncional. Evidencia-se a necessidade de ocupação de terrenos e edificações subutilizadas, a fim de exercerem funções sociais. Desta forma, a intervenção busca criar novas dinâmicas, alinhadas com a concepção de cidades compactas, inclusivas e plurais, atentas às memórias e às demandas do lugar.
Aluno: Bruno Gallina
Orientadora: Doris Baldissera
Com o intuito de trazer mais vitalidade urbana e segurança para os caxienses, o projeto Cidade a nível dos olhos – vitalidade e diversidade propõe alargamento das calçadas, implantação de ciclovias, padronização de arborização e mobiliário urbano, criação de novas paradas de ônibus, inserção de pocket park e de usos que proporcionem fachadas ativas aos grandes lotes que, hoje em dia, funcionam como estacionamentos rotativos. Uma das bases para criação do projeto foi o conceito de olhos nas ruas, em que as pessoas, ao se apropriarem do ambiente urbano, passam a exercer a vigilância informal do lugar. O principal ponto de requalificação é a Praça da Bandeira, com a valorização do patrimônio existente e a inserção de um volume com sanitários públicos e um café-livraria.
Aluna: Nathália Coradini Gonzales
Orientadora: Doris Baldissera
O projeto de um edifício de uso misto na área central de Caxias do Sul surge da necessidade de requalificação do espaço urbano, hoje um vazio subutilizado e precário, sendo a área de grande valor comercial. A proposta tem como um dos princípios traçar um eixo de conexão entre duas importantes paradas de ônibus, localizadas nas testadas da área, deixando o térreo livre para circulação e aberto para comércio. As duas torres, uma comercial, a outra residencial, contribuem para a diversidade dos usos e vitalizam o lugar em todos os períodos do dia.
Aluno: Lucas Thomás Franceschetti
Orientador: Erinton Aver Moraes
Um mercado público representa a valorização da produção e da cultura locais, e o incentivo às relações sociais. A fim de manter a legibilidade das edificações existentes, ressignificar o Complexo Histórico Maesa e criar um contraste com o novo, proporcionando a integração, as edificações propostas se acomodam no perímetro do terreno de acordo com os desníveis da topografia, “abraçando” a praça que se forma na parte interna. Essa configuração permite acesso direto ao telhado verde a partir da Rua Pedro Tomasi, proporcionando visuais dos espaços abertos e da Maesa. Estacionamento, memorial, auditório e restaurante foram agregados. O projeto possui relação direta com a rua – permeabilidade visual.
Aluna: Jéssica Testolin
Orientador: Rodrigo Salvati
O colecionador Paulo Sartori possui um acervo de arte com mais de 150 obras representativas da produção brasileira contemporânea. Propõe-se a criação da Fundação Paulo Sartori para expor o valioso acervo e promover a arte-educação. A implantação ocorre em uma área de elevado valor histórico-patrimonial. O local é configurado, atualmente, por lotes subutilizados no centro histórico, junto à Praça Dante Alighieri. A Casa Sassi, construção tombada pelo Patrimônio Histórico, é integrada ao novo complexo, respeitando as históricas edificações, ao mesmo tempo que cria contraste através da linguagem arquitetônica e das tecnologias propostas. O edifício-passagem, no térreo, conecta pelo interior da quadra a Avenida Júlio de Castilhos à Rua Dr. Montaury, potencializando a vitalidade urbana.
Aluno: Elias Vicente Riva
Orientador: Erinton Aver Moraes
Entendendo a demanda local e suas características e a necessidade de reocupar e densificar o centro urbano de Caxias do Sul, surge o CO - coliving + coworking + comunidade, complexo multiuso compartilhado sustentável. A proposta constitui-se de uma edificação destinada a um coliving, salas comerciais, coworking, café/bistrô, garagens privativas e uma praça/terraço público como forma de gentileza urbana do empreendimento. Além disso, emprega-se tecnologias sustentáveis, como telhados verdes, energia solar, estrutura em madeira laminada colada (MLC), entre outros, buscando-se o credenciamento de Edificação Sustentável através do selo LEED.
Aluno: Guilherme Conte Rodrigues
Orientador: Erinton Aver Moraes