No texto que apresenta o projeto audiovisual Performatividades Dissidentes, com estreia virtual marcada para este sábado (23), os artistas participantes Darlan Gebing, Márcie Vieira e Mel Gonçalves se auto intitulam “uma bicha, uma travesti e uma sapatão”. A escolha por essas palavras tem um propósito que se relaciona intimamente com o conceito do trabalho. São termos utilizados como uma espécie de campo de força num ambiente habitado por corpos potentes e interessados em investigar a complexidade de suas identidades.
– São palavras que antes eram pejorativas e degradantes e que, a partir desse processo de a gente se apropriar da nossa história, da nossa identidade, de parar de dar voz apenas a narrativas hegemônicas, a gente se apropria desses termos também e utiliza eles da forma que a gente quer – explica Márcie Vieira, mulher trans, artista, arte educadora e pesquisadora das questões de gênero.
Márcie, Darlan e Mel se conheceram num grupo de teatro criado em Caxias para dar vazão a temáticas e reflexões do universo LGBT+. Mesmo com as atividades interrompidas desde o início da pandemia, o trio manteve contato e compartilhava anseios sobre um projeto em conjunto. A oportunidade surgiu por meio da lei Aldir Blanc, que custeou o projeto. Performatividades Dissidentes mostra um pouco das criações artísticas que vinham sendo trabalhadas de forma isolada por cada um dos três. Mas, mais do que isso, o projeto reúne fragmentos muito pessoais e biográficos que acabam por aproximar a história de Márcie, Darlan e Mel enquanto donos de corpos dissidentes.
– A travesti por exemplo, é uma identidade de luta pelos direitos desse corpo dissidente. Não é um corpo que está tentando se igualar à identidade de uma mulher cisgênero. Eu não tenho interesse de construir meu corpo e de repente ter alguém dizendo “tu sempre foi uma mulher”. Ter um corpo dissidente é uma autonomia e uma afirmação desse local diferente – reflete Márcie.
Com 46 minutos de duração, o trabalho flerta com elementos da videoarte e mescla diferentes ferramentas relacionadas à performance. Mel, que é tatuadora e artista visual utiliza elementos mais abstratos, enquanto Márcie e Darlan investem mais na metáfora e na teatralidade – os dois, aliás, são artistas oriundos dos palcos de teatro, mas que especificamente neste trabalho representam personagens que furam drasticamente a bolha da ficção.
– São corpos que representam não o outro, mas camadas de nós mesmos – sentencia Márcie.
Programe-se
- O quê: estreia do audiovisual "Performatividades Dissidentes", com Darlan Gebing, Márcie Vieira e Mel Gonçalves.
- Quando: neste sábado (23), às 19h.
- Onde: no canal do Youtube Darlan Gebing.
- Quanto: acesso gratuito.