Duvido que você não tenha escutado, falado ou lido mais de 30 vezes a palavra empatia neste ano. Ouso chutar que, para muitos, foram muito mais. Mas é que, convenhamos, o pandêmico 2020 foi (e está sendo) uma rica oportunidade para que nós, entendendo a gravidade do momento, pensássemos ainda mais na gente, mas nos colocássemos também no lugar do outro.
E esse despertar para a importância de ajudar não veio de um grupo específico. Que nos diga Leonardo Maziero, guri de 11 anos, lá de Antônio Prado, que em abril arrecadou R$ 21,45 vendendo latinhas de alumínio e doou a grana para o hospital da cidade. Ele ou a família precisavam de leitos? Não, o Léo, vendo a escassez de recursos do sistema público, pensou além do umbigo mesmo.
Maio também chegou nos mostrando o que é mimimi, termo brilhantemente redefinido por Tatá Werneck: é a dor que não dói na gente. Vimos o mundo gritar por George Floyd, um homem preto brutalmente morto por um policial branco nos EUA. Foi preciso explicar, quase desenhando, que vidas negras importam.
Ainda nos primeiros meses de pandemia, vimos empresários tentando salvar os negócios, mas também portas se fechando e indústrias demitindo. No meio dessa crise toda, caxienses, que aparentemente não se encaixavam nos critérios do programa do auxílio emergencial, tentavam explicar por que embolsaram os R$ 600 que foram destinados a quem realmente passou por necessidades com a economia quase parando. O episódio jogou luz para um individualismo feio, mas também serviu para os egoístas repensarem atitudes. Assim esperamos, né?
O ano já se encaminhava para o final quando tivemos, em novembro, que levantar as bandeiras (aliás, chegamos a baixá-las?) por justiça por Mariana Ferrer. O julgamento do estupro da influenciadora terminou com a tese inédita e absurda de “estupro culposo”, e o empresário envolvido no caso foi absolvido. A decisão da Justiça foi questionada, assim como o tratamento que a sociedade dá para as mulheres. O feminismo ganhou força em 2020, mas ainda é preciso mais.
Esses 12 meses ensinaram que generosidade não é algo que se pratica só com os outros, mas também consigo mesmo. A carga pessoal foi grande, eu sei, até o Google pifou. Mas voltou. O ano está acabando. Precisamos pensar que a forma como encaramos 2020 diz muito sobre a gente: você reclamou ou agradeceu? Lamentou ou se reinventou?
Para ler ouvindo
É Tudo Pra Ontem, Emicida, com participação de Gilberto Gil
Você se viu aí na imagem acima? A sensível capa da revista New Yorker do começo deste mês foi muito comentada pelo mundo por resumir o ano de muitos(as) de nós, saber que não estamos sós ou que estar nesta situação é um privilégio.