Rogério Rodrigues quebrou barreiras que muitos duvidavam. Aluno dedicado desde a escola, sempre com boas notas, entrou na universidade onde formou-se em Administração de Empresas, finalizou, até agora, três especializações e concluiu um mestrado e já engatilha doutorado. Sua sede por conhecimento, estimulada por sua mãe, já que o pai morreu quando Rodrigues ainda era criança, o conduziu ao cargo de Diretor Executivo no Movimento Mobilização por Caxias (MobiCaxias). A entidade é uma das mais representativas da cidade, pois congrega diversos setores, que visam planejar Caxias para daqui 20 anos.
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Apesar dessa visibilidade e ascensão acadêmica e social, Rodrigues não conseguiu ainda transpor a maior muralha que se deparou na vida: o racismo. Antes de ocupar uma cadeira representativa no MobiCaxias, ele foi gerente regional do Sebrae por dez anos. Desde aquela época, Rodrigues já se vestia de forma impecável, com ternos alinhados e sapatos bem engraxados e lustros.
— Eu já passei por várias situações desagradáveis. Já fui confundido com garçom ou com segurança em eventos empresariais para os quais eu havia sido convidado. Porque essa é a percepção das pessoas, de que um negro chegando em um evento, de terno e gravata, é para ser segurança, nunca para ser o convidado — observa Rodrigues, 46 anos.
Para sair dessa situação indelicada e sempre constrangedora, Rodrigues recorre sempre às lições que aprendeu em casa.
— Mesmo que alguns amigos me sugeriram que nessas situações eu fizesse um escândalo, sempre optei por resolver na paz. A forma de resolver essa situação é no diálogo, pacífico, mostrando a pessoa que ela agiu errado. Esse constrangimento, devolvido a pessoa, é a maior lição do racismo — defende.
Rodrigues não se envolve em questões partidárias e ideológicas, não compra o discurso formatado, mas reconhece que o racismo tem sido banalizado.
— Há pessoas que fazem piadas a ponto da gente ter de conviver com práticas racistas, achando que é normal. Pô, não é normal, né?! — diz, em tom mais enfático.
Com mais de 20 anos de vida acadêmica, com experiência em planejamento estratégico e um currículo extenso, Rodrigues diz que se sente sempre mais exigido, como se houvesse um peso mais do olhar das pessoas para com o seu trabalho.
— Eu me sinto como se tivesse de estar sempre provando algo. Penso muito nos meus filhos, porque eu não queria que eles tivessem de passar por isso. Mas viu acho que vai ser inevitável. Porque eu sei, que na hora de uma contratação, na disputa de uma vaga, a cor da pele pesa — avalia.
A lição que Rodrigues quer deixar como legado, para as próximas gerações, é o que aprendeu em casa:
— A mensagem que eu posso deixar, é não se acomodar, buscar sempre o conhecimento. E não se conformar com racismo, preconceito ou discriminação.