O Dia das Mães celebrado neste domingo será diferente para a maioria das famílias e tem potencial para ser único, como nenhum outro até aqui. Com as medidas de distanciamento social impostas pela pandemia do novo coronavírus, os tradicionais encontros gerados pela data serão com menos abraços do que o habitual — ou nenhum, no caso de quem não mora sob o mesmo teto das mães —, mas sem deixar as demonstrações de amor e carinho de lado, claro.
Será preciso usar a criatividade (e fazer bom uso da tecnologia em alguns casos) para fortalecer ainda mais a relação entre mães e filhos. E as celebrações poderão até fugir do padrão (aquele almoço em família, com a mesa transbordando amor e comidas de mãe), mas não escondem a razão maior da data: o amor materno.
Com tantas mudanças na rotina desde a chegada da covid-19, os sentimentos acabam ficando represados, ainda mais neste momento. Mesmo assim, é possível transformar o atípico Dia das Mães deste ano em um momento de alegria.
— Esses momentos de datas festivas, sempre remetem a agrupamento. As pessoas sempre voltam para casa, principalmente quem mora fora. Nesses momentos, ficam em dúvida entre manter o isolamento e dar esse carinho — afirma a psicóloga Isabel Caberlon, lembrando a caraterística da região da Serra como um dificultador para que esse período seja mais tranquilo:
— Nós, como cultura italiana, temos muito isso do reunir para a refeição, aquele compartilhamento de comida. Isso é uma maneira de mostrar nosso afeto, mas esse momento de pandemia está clamando pela necessidade do isolamento. A maioria está abrindo mão desse convívio, dessa união de família, pela preservação da saúde e segurança dos pais, que normalmente fazem parte do grupo de risco.
A atual pandemia gera uma possibilidade tecnológica diferente para as pessoas. Para muitas mães, que vivem habitualmente distante dos filhos, o contato através de redes sociais já é uma realidade. Saber “tudo da vida” por meio de mensagens de texto, áudios e vídeos, pode ser rotina para alguns. Mas, para outros, é uma condição nova, inerente às mudanças trazidas pelo distanciamento.
— Situações críticas e inéditas nos convocam a ter estratégias diferentes. Temos a facilidade de alguns instrumentos que compensam um pouquinho esse isolamento, que são as vídeo chamadas. De alguma forma, que permite além da voz, ter o contato visual com os pais – diz Isabel, relatando a própria experiência:
— Minha sogra tem 94 anos e ela está com uma das irmãs do meu marido. Nestas datas, fizemos uma vídeo chamada com todos os filhos dela e suas famílias, conversamos por mais de uma hora entre todos para poder fazer esse encontro, mesmo que virtual. No meu lado da família, somos quatro irmãos e todos os finais de semana fizemos essas chamadas. Não fisicamente, mas de uma forma efetiva.
Laços mais firmes
“Logo estaremos todos juntos”, dizia o bilhete que a advogada Daisy Longaray Simas, 68 anos, recebeu em casa, em Caxias do Sul, junto do seu presente de Dia das Mães. É a primeira vez em que ela vai passar a data longe da filha, Daniela Simas, 44 anos, que mora em Porto Alegre. Em isolamento social, elas, assim como milhares de outras mães e outros filhos, repararam que não poderiam dar aquele tradicional abraço apertado neste domingo.
E apesar dessa mudança na forma de celebrar o Dia das Mães, a ligação materna com os filhos – e vice-versa – não se altera por conta do distanciamento social. Segundo a psiquiatra Neusa Alexandrino, essa relação precisa ficar clara para que a angústia não tome conta da melhor parte dessa ligação tão significativa:
— É difícil porque as pessoas estão tendo hábitos diferentes. Não que o amor mude, ele até fortifica o relacionamento das mães com os filhos. Não mudam os laços, só há um afastamento físico. Isso vai gerar estresse, as pessoas ficam mais vulneráveis mesmo, mas é preciso encarar que isso vai acabar.
As ligações e vídeo chamadas são pontos de apoio levantados pela psiquiatra como relevantes nesse momento:
— Acho bem importante a vídeo chamada. Não é a mesma coisa que a presencial, que seria o ideal. Mas esse contato alivia a ansiedade, não faz mal.
Apesar da facilidade tecnológica, a psiquiatra Maria da Graça dos Santos alerta que cada caso deve ser analisado mais profundamente, pois, segundo ela, algumas pessoas podem ter reações não tão positivas ao lançar mão das chamadas de vídeos, gerando ainda mais ansiedade.
— Tem várias maneiras de dar carinho e estar presente na vida das pessoas. Não é só o presencial. Por vezes, as pessoas se reúnem e acontecem aquelas brigas todas de família. Tem que saber redirecionar, porque não vai atrapalhar o vínculo, é só um momento — alerta Neusa.
Quando tudo isso passar, serão necessárias readaptações e os reencontros precisarão ser comemorados, até como marco do fim de um período de muito ensinamento e autoconhecimento de todos.
— Vai ter causas. Temos que estar bem cientes disto. Tudo isso vai gerar uma mudança, não tem como não. Ninguém esquece tudo isso. É bom que as pessoas, depois que passar esse período (de distanciamento social), comemorem todas as festas atrasadas — diz Neusa Alexandrino.
A opinião vai ao encontro do que acredita a psiquiatra Maria da Graça:
— As pessoas vão desenvolver novos valores, vendo que essa parte financeira, monetária, presentes e pombas exageradas, não são indicadas. Até porque, não é isso que é importante. Importa é estar perto, se aproximar e abraçar mais, falar para as pessoas que gostam delas, que sentem falta.
O Dia das Mães de 2020 ficará, de fato, marcado na história de todos. Para que em 2021 todos aqueles que tenham a possibilidade de comemorar a data ao lado de quem lhe deu a vida possam celebrar a vida, é preciso cuidar de quem faz esse amor todo uma realidade.
— É um momento em que temos que pensar nesse sacrifício como um bem maior, a saúde de nossas mães. Não levar isso para um lado triste — concluiu a psicóloga Isabel Caberlon.