– Ao mesmo tempo que a internet jogou luz em muita música boa que estava escondida, também trouxe muita porcaria. E acho que muita gente cansou de tanta bobajada.
É assim, com seu jeito de falar franco e direto, que Maria Rita Stumpf interpreta o movimento que resgatou a música de tantos compositores importantes, mas que transitaram por uma cena mais alternativa nos anos 1970 e 1980, como Jards Macalé, Arthur Verocai, Marcos Valle e Nelson Angelo (do Clube da Esquina). Esta onda de redescobertas fez a cantora e compositora, nascida em São Francisco de Paula e que viveu até o fim da adolescência em Caxias do Sul, retomar com todo vigor uma carreira que havia sido deixada de lado em 1993.
O ano da reviravolta foi 2015, quando um DJ encontrou seu disco de estreia, Brasileira (1988), num sebo em Tóquio e ficou curioso por reconhecer alguns dos instrumentistas citados na capa, ainda que não conhecesse a cantora (que assinava apenas Maria Rita).
Aquela mistura de psicodelia, temas tribais e todo tipo de experimentalismos, somado a melodias tão fortes quanto belas, ganhou as pistas de dança e repercutiu no meio de colecionadores: alguns dos poucos exemplares do vinil chegarem a ser vendidos por mais de dois mil euros na internet. Músicas como Cântico brasileiro nº 3 (Kamauará) entraram em coletâneas internacionais e alcançaram sucesso nas plataformas digitais, reaproximando a cantora de antigos parceiros e motivando seu retorno após quase 30 anos.
– Depois de 1993 eu cansei. Poucos músicos tinham o entendimento para tocar aquele tipo de música, dava muito estresse, e eu já estava dividindo as atenções entre minha empresa de produção de eventos (em São Paulo) e o filho pequeno que tinha para criar. Mas eu sempre soube que voltaria a gravar minhas músicas, nem que fosse num pequeno gravador caseiro. Acho que essa volta, inclusive tendo ido a Caxias do Sul para gravar uma música (para a coletânea Sons Que Vem da Serra), é como um fechamento de ciclo – analisa a cantora, de 62 anos, que mora em São Paulo.
Inkiri Om, álbum que consagra a volta de Maria Rita ao estúdio e aos palcos (embora ela não esconda que prefira os estúdios) chega nesta sexta-feira às plataformas digitais. Nas faixas que exploram sons orgânicos e programações eletrônicas quase na mesma medida, a serrana volta a abordar em suas letras e melodias a temática indígena que a envolveu ainda nos anos 1980, quando era estudante de Jornalismo e foi tocada pela história de luta dos povos caingangues no Rio Grande do Sul. Uma das músicas mais inspiradas, Somos Todos Índios, assinada por Evandro Mesquita e Vinícius Cantuária, já ganhou clipe, disponível no YouTube.:
– Hoje é preciso cantar mais ainda por essas populações que estão sendo exterminadas e pelo meio ambiente, que está sendo tratado com extrema irresponsabilidade. Acho que minha música pode colaborar para trazer às pessoas algo que as toque nesse momento muito difícil, a nível de mundo, mas principalmente no nosso país, que é o suprassumo da maluquice.
Inkiri Om pode ser conferido no Spotify, no YouTube e no site oficial da cantora: www.mariaritastumpf.com.
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