O início, que parece inspirado em 2001 - Uma Odisseia no Espaço, logo indica o caráter futurista. Porém, a câmera que antes passeava tranquila pela imensidão interestelar não demora a sofrer um corte bruto para situar o espectador numa estrada árida do sertão nordestino, onde um caminhão pipa desvia de buracos rumo ao pequeno povoado de Bacurau. Essa simbiose do clima de ficção científica com uma estética e um discurso genuinamente ligados à identidade brasileira marca a abertura do filme dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles; e representa um dos maiores diferenciais do trabalho.
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Exibido como longa de abertura no 47º Festival de Cinema de Gramado, Bacurau chega em Caxias com atraso de quase um mês com relação aos cinemas das capitais brasileiras. Tudo isso só aumenta a expectativa dos caxienses pelo filme brasileiro mais importante lançado em 2019 até agora – a conquista do prêmio da crítica no Festival de Cannes, em maio, reforça esse caráter. Bacurau entra em cartaz na Sala de Cinema Ulysses Geremia hoje e pode ser visto (com sessões de quinta a domingo) até o dia 6 de outubro.
O roteiro parte da comoção com a morte de uma idosa muito querida entre os moradores da comunidade de Bacurau. Futuro e passado se encontram novamente no cortejo do corpo, com um telão de led exibindo imagens da falecida enquanto a população leva o corpo a pé, cantando uma música de Sérgio Ricardo, ídolo da década de 1960. A primeira metade do filme dá conta de descrever Bacurau e suas particularidades ao espectador. Trata-se de uma comunidade unida, com moradores que cuidam uns dos outros. A falta de abastecimento de água no local mobiliza a todos até que a cidade se vê às voltas com uma série de ataques violentos e inexplicados – vale ressaltar a presença de muito sangue no filme, que tem classificação indicativa de 16 anos.
Apesar de pequena e quase isolada, Bacurau valoriza a educação – o líder local é um professor – e sua história – o povoado possui um rico museu, que será crucial para a narrativa. Na história, alguma razão abstrata leva a comunidade a ter que lutar por sua própria existência, até o mapa insiste em boicotar aquele lugar e sua gente.
Conhecido por priorizar um discurso político em suas obras – como O Som ao Redor e Aquarius – desta vez Kleber Mendonça une forças com Juliano Dornelles para oferecer uma história visceral, que evoca o discurso social nas entrelinhas mas sem cair nas armadilhas dos filmes “cabeça”. Apoiada na presença de gigantes como Sônia Braga e o alemão Udo Kier (a própria representação do mal na telona), o trunfo de Bacurau reside na capacidade de olhar para dentro do próprio Brasil e para a força ancestral de seu povo.
Ao criar um futuro distópico onde o amor pelas armas é uma realidade presente e cruel, o filme aponta um caminho frente ao perigo iminente: é preciso valorizar a consciência histórica e a identidade própria. Em Cannes, Juliano Dornelles dedicou o prêmio aos trabalhadores brasileiros da ciência, da educação e da cultura. Essa homenagem é o próprio filme.
Programe-se:
:: O quê: Filme Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles.
:: Quando: Estreia hoje e fica em cartaz até o dia 6 de outubro, com sessões de quinta a domingo, sempre às 19h30min.
:: Quanto: R$ 10 (geral) e R$ 5 (idosos, servidores municipais e estudantes).
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
:: Classificação: 16 anos.
:: Duração: 132 minutos.
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