O que lhe vem à mente quando falamos em Holocausto? Provavelmente, as deprimentes cenas do genocídio que vitimou aproximadamente 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, os corpos amontoados nas valas comuns dos campos de concentração e os prisioneiros magérrimos, de cabelos raspados, roupas listradas e um número tatuado no braço.
Não são poucos os filmes que abordaram esse triste momento histórico, casos de A Lista de Schindler (1993), A Vida é Bela (1994), O Pianista (2002) e também o brasileiro Olga (2004). Pouco se fala, no entanto, que o regime nazista de Adolf Hitler também executou membros de outras minorias étnicas, religiosas e políticas, como ciganos, homossexuais, comunistas, testemunhas de Jeová, prisioneiros de guerra soviéticos e pessoas com deficiências físicas e mentais.
Com o povo negro não foi diferente. Quando Hitler chegou ao poder, em 1933, milhares de negros viviam na Alemanha, embora o número exato não tenha sido calculado pelos censos da época. De forma geral, uma comunidade formada por famílias que migraram das colônias germânicas na África e passaram a ser sistematicamente perseguidas após as leis raciais de Nuremberg de 1935.
Esse capítulo da história, pouco lido ou abordado, é o tema central da exposição Nossa Luta: a perseguição aos negros durante o Holocausto, que será aberta ao público nesta segunda-feira (12), no Centro de Cultura Ordovás. A mostra, promovida pelo Museu do Holocausto de Curitiba e com passagem inédita pelo Rio Grande do Sul, reúne 23 painéis e duas vitrines com fotos e textos explicativos.
– O diferencial da exposição é mostrar que, no Holocausto, houve perseguição não somente aos judeus, mas às minorias, de forma geral. Há evidências que nos trazem isso. E também é uma forma de amplificar o debate e falarmos das perseguições que existem ainda hoje – afirma Eduardo Gross, diretor executivo da Federação Israelita do RS, uma das entidades apoiadoras do evento.
Com a proposta de oferecer novas narrativas aos educadores, a exposição contextualiza a repressão sofrida pelos negros desde o período colonial alemão, incluindo o genocídio de hereros e namaquas (no território da atual Namíbia), passando pelo período republicano do país (1919-1933), até a ascensão do totalitarismo nazista.
– Praticamente todas as tragédias que aconteceram na humanidade foram estudadas sob a perspectiva europeia. A gente não consegue perceber que outros grupos foram tão atingidos quanto, ou até mais. Essa exposição vem justamente para mostrar que essas tragédias, como genocídios e ditaduras, também atingiram a população negra – ressalta a historiadora Caren Daiane da Silva, que palestra amanhã, às 9h15min, traçando paralelos da temática com a importância dos negros na formação cultural e econômica do Brasil.
Nossa Luta: a perseguição aos negros durante o Holocausto integra a programação da Semana da Fotografia de Caxias do Sul e fica em cartaz até o dia 22, com palestras e atividades voltadas ao público escolar (veja a lista completa abaixo). O agendamento de visitas guiadas para turmas escolares pode ser feito pelo telefone (54) 3901-1316, ramal 201. Até o momento, mais de 20 escolas das redes municipal e estadual já fizeram reserva de horários – o que demonstra a relevância do tema.
Depois da passagem pelo Ordovás, os painéis seguem para Porto Alegre, onde serão expostos na Câmara de Vereadores, de 27 de agosto a 17 de setembro.
PROGRAME-SE:
:: O quê: exposição Nossa Luta: a perseguição aos negros durante o Holocausto.
:: Visitação: de 12 a 22 de agosto; de segunda a sexta, das 9h às 22h; finais de semana, das 16h às 22h.
:: Onde: Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
:: Quanto: entrada gratuita.
Atividades
:: Dia 12 (segunda), às 18h: abertura da exposição, apresentação artística com Tonico de Ogum e Bruna Cardoso e abordagem sobre o negro no mercado de trabalho, com Letícia Padilha.
:: Dia 13 (terça), às 9h15min: palestra com a historiadora Caren Daiane da Silva.
:: Dia 14 (quarta), às 9h: capoeira com o grupo Conquistador da Liberdade.
:: Dia 15 (quinta), às 13h30min: roda de conversa sobre educação e combate ao racismo, com Adriana Santos.
:: Dia 16 (sexta), às 9h: capoeira com o grupo Conquistador da Liberdade.
:: Dia 19 (segunda), às 9h15min: roda de conversa sobre religiosidade, com Sergio Ubirajara.