O movimento circunda uma casa instalada num cartão postal ao sul da França. À frente, há o vaivém das ondas do mar; atrás, há uma linha ferroviária e uma estrada, ambas em plena atividade. Enquanto contempla essa paisagem de sua varanda, um idoso sofre um colapso e fica acamado, fato que motiva a reunião de seus três filhos nesse mesmo local, depois de 20 anos separados. Ao redor da vida que se definha, estagnada, novos dilemas movimentam o lugar e sugerem muito mais do que meros conflitos familiares. Uma Casa à Beira-mar, longa francês que estreia nesta quinta na Sala de Cinema Ulysses Geremia, olha tanto para o passado quanto para o futuro, discutindo a finitude, a maturidade e pregando o humanismo.
Dirigido por Robert Guédiguian – conhecido por filmes como O Fio de Ariane e As Neves do Kilimanjaro –, o longa propõe um olhar simples sobre a vida bucólica na pequena vila marítima que sedia a história. Sem ousadias nos movimentos de câmera ou na composição dos quadros, o objetivo aqui é voltar atenções aos diálogos e aos dramas pessoais de cada personagem, com a calma narrativa que costuma caracterizar o cinema francês. O ritmo, porém, soa demasiadamente demorado na primeira metade do filme, o que pode irritar os espectadores com menos paciência. Mas depois que o roteiro (escrito pelo diretor em parceria com Serge Valletti) engrena, as relações sugeridas pelo longa ficam mais claras. E o deleite do outro lado da tela também.
Uma Casa à Beira-mar é conduzido, principalmente, pela história pessoal da personagem Angèle (Ariane Ascaride). Ela é uma atriz famosa que se distanciou da família depois de uma tragédia ocorrida na mesma paisagem que agora revisita por conta da doença do pai. A princípio séria e amargurada, a figura de Angèle vai mudando a medida que a personagem se abre para as novidades que surgem no velho lugar onde cresceu. Outro personagem interessante é o irmão dela, Joseph (Jean-Pierre Darroussin), que vive um constante embate de gerações com a namorada jovem e entediada Bérangère (Anaïs Demoustier). O outro irmão, Armand (Gérard Meylan), representa a figura de quem escolheu (ou precisou?) ficar a vida toda no mesmo lugar, acompanhando os negócios do pai, e agora se vê um tanto confrontado pela presença dos irmãos antes tão distantes.
Pincelando ainda visões sobre a esquerda – muito bem-vindas em momentos políticos tão fervorosos como os que vivemos atualmente no Brasil – o filme deixa sua mensagem humanista (sem ser panfletária) tomar conta da história a partir de um ponto de virada. Precisando lidar com outra situação urgente além da doença do pai, o trio de irmãos acaba por se unir nos ideias que possuem em comum e que – fica implícito – fazem os ensinamentos do patriarca valer a pena. Concluindo o movimento circular das ideias de maneira interessante.
Programe-se:
:: O quê: drama francês Uma Casa à Beira-Mar, de Robert Guédiguian.
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
:: Quando: estreia nesta quinta e fica em cartaz até o dia 7 de outubro, com sessões de quinta a domingo, às 19h30min.
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes, beneficiários ID Jovem, idosos e servidores municipais).
:: Classificação: 12 anos.
:: Duração: 107min.