Olha só, madama, vamos fazer um exercício de imaginação hoje, para ilustrarmos já de saída essa nossa reflexiva crônica de segunda. Você é uma pescadora, ok? Uma pescadora a senhora, um pescador eu. Feche os olhos e imagine... Não! Não feche os olhos, não, madama, senão não vai conseguir ler até o final. Imagine de olho aberto mesmo. Vamos lá. Você é um pescador, mora em uma casinha à beira-mar e o patrimônio mais precioso que possui é uma velha canoa de madeira que você usa todos os dias para vencer as ondas da rebentação, rumar mar adentro e soltar as redes, os anzóis e as iscas a fim de pescar os peixes que proverão o sustento de sua família.
Tudo bem até aqui? Certo, vamos adiante. Mal o sol apontou no horizonte e você já está a postos, empurrando solitariamente sua canoa ao mar e lá vai você, seus filhinhos acompanhando com o olhar a sua figura que vai se transformando em um pontinho minúsculo de encontro ao oceano. Pronto. O dia está bonito, quente, sem nuvens. Uma suave brisa matinal sopra e alcançamos a calmaria do alto-mar. A praia está distante já alguns quilômetros, você mal divisa o pico do mais alto prédio da cidade. É hora de começar a trabalhar. Só que... Opa! Que é isso? De repente, lá na proa, a água começa a entrar pelo fundo e a inundar lentamente sua embarcação. Como pode isso acontecer? Um furo? Mas como, um furo? Sim, é um furo e a água está entrando, e agora?
Lembre, você está sozinha em alto-mar em sua canoa, a quilômetros da praia, sem nenhuma outra embarcação por perto, nem viv´alma ao redor para socorrê-la. O que você faz? Vai gritar por ajuda? Vai esperar pelo socorro de alguém, da polícia, dos bombeiros, de Deus, da Fada Madrinha, do bispo, do Temer, do Lula, da Dilma, do Sérgio Moro, do Papai Noel? Não, né. Não há a quem recorrer, a não ser a você mesma. Não adianta gritar e nem empurrar seu problema para o colo de outra pessoa. Seu problema é só seu e você terá de se mexer para resolvê-lo. E o que acontece? Ora, você
faz alguma coisa, sei lá o que, e se safa dessa. Afinal, não havia a quem repassar o abacaxi. Ao menos, não dessa vez. Ao invés de gritar, chorar, espernear, vituperar contra os azares da vida, você arregaça as mangas, soluciona o problema e retorna sã e salva para casa, a canoa reparada e repleta de peixes. Que é como deveria ser sempre, né madama? Solucionarmos os contratempos com mais vontade, mais suor e menos choro, porque se tem coisa de que o mar imenso não precisa é das gotas de nossas lágrimas de autocomiseração. E vamos lá que amanhã tem mais peixe à espera.