Na obra Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, o moçambicano Mia Couto faz uma reflexão sobre a importância do bem estar na própria residência: . Por mais poético e ficcional que o trecho seja, ele ajuda a revelar uma necessidade e uma busca humana: a harmonia no lar.
Uma das formas de obtê-la é por meio do Feng Shui. Às vezes, a primeira ideia que se tem sobre o tema é um cristal, um buda ou um elefante, mas essa técnica chinesa é muito mais abrangente.
— Não há nada de misticismo nisso — explica arquiteta, urbanista Lisiane Caberlon, especialista em Feng Shui há sete anos.
Ela ensina que o espaço de fora reflete o espaço interior do indivíduo e, por meio da utilização consciente dos lugares, é possível manter a energia em equilíbrio e o ambiente em harmonia, atraindo bem-estar e saúde:
— Cada espaço é como uma impressão digital, uma identidade única, uma marca individual que leva em consideração diversos aspectos. Embora as áreas construídas possam ser semelhantes, nenhum histórico se repete no tempo e no espaço.
Por meio de quatro linhas, que abarcam a análise externa da construção, o Ba-Guá (octógono que serve como ferramenta de estudo que faz as "curas" que a casa precisa), o Ba Zhai (estudo da bússola/dos pontos cardeais) e o mapa energético pessoal, Lisiane trabalha o Feng Shui com o realinhamento de móveis, objetos decorativos e a utilização de cores, formas e texturas como fortes aliados na harmonização de ambientes. As cores nos ambientes, por exemplo, podem ser utilizadas para transmitir emoções e sensações que provoquem sentimentos nos habitantes e visitantes de um espaço.
— Quando trabalhamos um ambiente com os princípios do Feng Shui, nosso objetivo é estabelecer equilíbrio e harmonia por meio de valores intuitivos e emocionais, com significado analítico, lógico e funcional do espaço e das formas — ressalta Lisi.
Estamos sempre à procura de um lugar mais harmônico e auspicioso para viver e trabalhar. Cada ambiente da casa funciona como órgãos no corpo humano, como um organismo vivo: a sala é o coração da casa, o quarto de dormir é o lugar em que as energias são repostas, a cozinha é o pulmão da casa, o banheiro funciona como os rins da casa.
— A casa em que habitamos tem um significado muito importante ao longo de nossas vidas. É o núcleo de convergência do encontro com a família, dos objetos e gostos pessoais, de nossa maneira de viver, do seu estilo pessoal — explica a arquiteta.
Aplicações práticas
O ambiente deve ter um fluxo natural e uma circulação suave de energias. Isso significa que se deve evitar acúmulo de móveis, de adornos e até de papéis.
Além da organização visual, deve-se arrumar o que está dentro dos armários.
É sempre melhor fazer a arrumação durante o dia, por causa da claridade e do sol.
Recomenda-se que, ao menos uma vez por dia, janelas e portas sejam abertas, para possibilitar a renovação energética.
É aconselhável ter plantas naturais em casa – há indicações para cada caso. Plantas de proteção, como espada de São Jorge, devem ficar no último cômodo da casa, longe da porta de entrada. Na sala, plantas servem como filtro de energia.
Na sala de jantar e de reuniões, uma mesa redonda traz dinamismo e facilita as relações. Mesa quadrada favorece a hierarquia.
Cortinas são importantes porque vestem a casa e expressam afetividade.
Janelas devem ter pendentes, porque eles contêm a energia em excesso, são obstáculos para energias mais bruscas.
Quarto de casal deve manter o equilíbrio das energias yin e yang: claro-escuro/branco-preto/masculino-feminino, etc.
Significado
A combinação das palavras Feng Shui é baseada em elementos da natureza (vento e água) e representa o fluxo da matéria fluída e densa em movimento constante, assim como o processo no corpo físico (respiração e circulação). No Feng Shui trabalha com a harmonização dos ambientes alinhando a pessoa à casa. A prática é chinesa e também tibetana e é aplicada há mais de 5 mil anos pela humanidade.