Quando catequizado fizeram a minha cabeça com esmerada lavagem cerebral, vendendo-me a ideia que Jesus era solteirinho da silva. Na idade da inocência a gente engole tudo e não tem o quê e como contestar. E, depois, rejeitar dogmas seria uma heresia, um pecado mortal. Se ele casou ou não, desconheço. Suponho e suspeito. Mas, duvido que tenham certeza de que ele não se amancebou. E por que se aborrecer se de fato aconteceu?
Reparem que surgiram vários ensaios investigativos, seriamente conduzidos, defendendo a tese de que Jesus manteve uma ativa vida matrimonial. Tão prolífica que teria gerado filhos. Documentos históricos – e não bíblicos – permitiram extrair dados fundamentados comprovando que sim. Por interesses espúrios acabaram esquecidos e ocultados. De certas pesquisas, procuro manter adequada distância, interpretando-as com espírito crítico e impondo ao autor e a mim próprio uma série de questionamentos. Aceito ou rejeito. Preliminarmente, exigente e incrédulo, vou deixando em banho-maria, à espera de melhores elucidações.
Agora que o sentimento religioso no mundo inteiro se tornou alvo de diversificadas inquisições, padecendo substancial declínio de sua credibilidade, impõem-se algumas reflexões sem que signifiquem desrespeito ou zombaria. Raciocinar é faculdade do “homo sapiens”, tanto que o maior exemplo para o catolicismo veio de forma brilhante e oportuna do Papa Francisco. Enfaticamente, ele reconheceu que “o mundo não surgiu de um passe de mágica”, admitindo, por consequência, os fenômenos que a ciência tenta demonstrar e provar de longa data.
Diante dessas circunstâncias, não vejo como se espantar que Jesus Cristo tenha tido uma esposa. Sabidamente, Maria Madalena que, nos doutrinamentos era exposta como uma pecadora. A única mulher, afora a Mãe do Salvador, presente ao martírio da crucificação. Alguns escribas mudaram o roteiro, reescrevendo-o à solapa. Ora, se os papas tiveram, durante séculos, mulheres, amantes e proles, onde está o crime? Por acaso é feio em optar pelo casamento? Alguma coisa fora do comum? Ou absolutamente natural?
Talvez se casados, os sacerdotes teriam transposto muitos desvios de conduta e acidentes de percurso. Para existir famílias - que eles tanto abençoam - é preciso o ato da união carnal. O curioso e o estranho é que seus ministros fogem do casório como o diabo da cruz. Seria sublime caso Jesus tivesse sido marido e pai. O filho de Deus, igual a nós. Gente como a gente. Humano, de carne e osso, fazendo minha Páscoa ainda mais feliz. Porque ele é o “cara”.