Um balanço da Secretaria Municipal da Cultura de Caxias do Sul aponta a realização de mais de 13 mil atividades nos últimos quatro anos, atingindo um público que ultrapassa as 5 milhões de pessoas em diferentes áreas artísticas. Ao deixar a pasta que comandou desde abril de 2014 (quando assumiu o posto que era de João Tonus), a secretária Rubia Frizzo avalia positivamente o trabalho realizado, citando o envolvimento com a comunidade e as parcerias obtidas com diversas entidades, o trabalho na comissão criada para a ocupação da Maesa, a transferência dos desfiles da Festa da Uva e do Carnaval para a Rua Plácido de Castro e a mudança da Feira do Livro para o largo da antiga Estação Férrea como os principais legados de sua gestão.
– A área da cultura, nas últimas administrações, vem crescendo bastante, tanto internamente, na secretaria, quanto nas programações realizadas. (Os últimos quatro anos) não foram anos fáceis, em razão da situação econômica do país, que resultou na redução de verbas, mas não deixamos de realizar nenhuma atividade que estava prevista – afirma, acrescentando que grande parte das ações só foi possível graças a mecanismos como o Financiarte e a Lei Municipal de Incentivo à Cultura (LIC), que contribuíram para a implementação das programações.
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Ao comentar sobre a revitalização da Praça do Trem e da Praça das Feiras, em São Pelegrino, Rubia comemora a transferência da Feira do Livro para o novo espaço, mesmo que a medida tenha causado polêmica com a Associação dos Livreiros Caxienses (Alca) e o público contrário à troca de local:
– Antes, aquela região ficava escondida, havia entulhos. Com isso, pudemos levar eventos maiores, com capacidade de acomodar mais público, como espetáculos, o Festival de Música de Rua, a Parada Livre, o Festival Gospel, o Cinema de Verão e a própria Feira do Livro, que teve uma estrutura muito adequada, um palco maior, piso tátil, melhor acesso para cadeirantes, área infantil melhor estruturada e um auditório com capacidade para 500 pessoas.
A secretária lamenta, no entanto, não ter realizado a reforma da terceira parte do Largo da Estação, entre a Praça das Feiras e a Rua Marechal Floriano, obra que, segundo ela, não foi possível devido à falta de recursos.
A entrega do Café Vitrine Cultural, no piso térreo da Casa da Cultura, no Centro, é outro ponto destacado por Rúbia, bem como o projeto Cultura na Comunidade, que levou aulas aos bairros e distritos por meio de oficineiros.
À nova secretária, que assume a Cultura a partir de segunda-feira, Rubia deseja sucesso.
– Tenho certeza de que ela fará um bom trabalho. É uma área muito sensível, com pessoas muito conscientes dos seus direitos culturais. Temos uma comunidade cultural muito madura – avalia.
Sala de Cinema Ulysses Geremia
* Uma das principais reivindicações da Unidade de Cinema desde sua criação, no início da gestão de Alceu Barbosa Velho, era a digitalização do formato exibidor. O investimento, estimado em cerca de R$ 250 mil e R$ 300 mil, seria necessário para garantir que a programação permanecesse atual, já que a maioria dos lançamentos não tem mais distribuição em película. A Secretaria da Cultura nunca escondeu que esse investimento não era prioridade, mas chegou a dar "90% de chances" de que aconteceria em 2016. Entretanto, o sistema não foi trocado até o fim da gestão.
Caxias em Cena
* Importante ação encabeçada pela Unidade de Teatro, sofreu um significativo enfraquecimento no último ano. O número de espetáculos foi reduzido e a programação ficou voltada principalmente para atrações locais. A Secretaria da Cultura culpou as dificuldades financeiras pelo enxugamento do Em Cena em 2016.
Feira do Livro
* Em janeiro de 2015, Rubia Frizzo anunciou ao Pioneiro o desejo de levar a Feira do Livro para a Estação Férrea. Logo depois, o prefeito Alceu Barbosa Velho repercutiu a declaração dizendo que o caso já estava "deliberado". Com uma enxurrada de opiniões contrárias, entre elas a da Associação dos Livreiros Caxienses (Alca), a mudança foi adiada para a Feira do Livro do ano seguinte. Em 2016, a feira aconteceu na Estação Férrea pela primeira vez, sem a participação de pelo menos 12 livreiros/editoras caxienses, mas com o acréscimo de outras que vieram de fora da cidade. A mudança no local da feira é encarada pela Secretaria da Cultura como um dos maiores legados dessa gestão, mesmo dividindo opiniões na cidade.
Plácido de Castro
* 2016 também marcou a mudança do corso alegórico da Festa da Uva para a Rua Plácido de Castro, outro legado dessa gestão. O espaço, batizado de Rua do Lazer, é fechado aos fins de semana para receber pedestres, foodtrucks e alguns eventos. Em fevereiro, é ali também que ocorre o desfile das escolas de samba, desde 2015. A Sinimbu, que antes servia de palco tanto para o corso como para o carnaval, ficou entregue somente aos carros.
Estação Férrea
* É fato que o espaço foi ganhando cada vez mais adeptos com os gradativos esforços da Secretaria da Cultura em favorecer a ida de atividades culturais para lá, como o Festival Brasileiro de Música de Rua, o Cinema de Verão e de Inverno e a própria Feira do Livro. A Biblioteca Parque, projeto que já vinha da gestão municipal anterior à do prefeito Alceu Barbosa Velho, foi inaugurada em 2013 e passou a receber alguns lançamentos de livros e atividades de fomento à leitura. As revitalizações da Praça do Trem e Praça das Feiras também contribuíram para uma maior ocupação da Estação pela comunidade. Alguns avanços no largo, porém, ficaram somente nos planos da secretaria. Um exemplo é a Casa das Máquinas. Em 2014, o então representante da pasta da Cultura, João Tonus, disse ao Pioneiro que planejava que o espaço recebesse apresentações tipo arena, o que não tem acontecido.
Maesa
* Os últimos anos marcaram alguns avanços na preservação desse espaço histórico para a cidade. A Secretaria da Cultura foi responsável por coordenar uma comissão composta por 13 entidades e dedicada à análise de uso e gestão do complexo. O Estado aprovou um plano de ocupação, que prevê a instalação de um Mercado Público no espaço (priorizando espaços de fomento à produção e circulação cultural).
Conselho comemora Sistema Municipal de Cultura
Para Luciana Stello, presidente do Conselho Municipal da Cultura, que reúne representantes da classe artística e do poder público, a aprovação do Sistema Municipal de Cultura foi uma das principais conquistas durante a administração do prefeito Alceu Barbosa Velho.
– O sistema garante que as próximas gestões tenham uma visão focada na cultura e as formas de trabalhá-la. Independentemente de quem estiver na prefeitura, garante a manutenção de programas tanto de formação quanto de fomento, como o Financiarte e a LIC, dois projetos-chave para a área.
Outro avanço, segundo ela, diz respeito à descentralização, por possibilitar mais oportunidades aos moradores de bairros longe do Centro:
– A descentralização no que diz respeito à acessibilidade, não só de estrutura, mas estar onde o público está, embora tenha havido a perda de alguns Pontos de Cultura, que acabaram fechando – cita.
Luciana salienta ainda o trabalho do Conselho como entidade fiscalizadora e consultiva, que, segundo ela, conseguiu imprimir um bom diálogo com o poder público.
– Em relação ao Financiarte, por exemplo, por meio de conversas com artistas, produtores e com as Comissões de Avaliação, Seleção e Fiscalização (CASFs), sugerimos propostas de alteração para o próximo edital que acreditamos que trarão melhorias no processo – exemplifica.
Entre os aspectos a melhorar, a presidente do Conselho sugere a valorização dos artistas locais, o que, na opinião dela, pode ser reforçada:
– A cidade tem um potencial artístico muito grande, e isso poderia ser melhor explorado, inclusive fora de Caxias.