Com a experiência de quem viveu o que chama de o meio século mais efervescente da história e combateu a ditadura nas páginas do Pasquim, Ziraldo, 85 anos, não tem dúvidas:
– Nós vamos ser a maior nação do mundo no final deste século. O Brasil é um milagre, não tem explicação na ponta do lápis. Ele não era para dar certo, então a possibilidade de dar certo hoje é imensa. A gente vai chegar lá, porque o Brasil é o único país do mundo que não tem problema sem solução.
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O cartunista e escritor mineiro, criador do Menino Maluquinho – um dos personagens mais icônicos da literatura infantil brasileira –, esteve na Feira do Livro de Porto Alegre no sábado, autografando sua mais nova obra, Meninas. A imensa fila de crianças e adultos esperando para vê-lo (foi preciso distribuir senhas para os autógrafos), as interrupções das entrevistas por pessoas querendo cumprimentá-lo ou tirar foto e as declarações de "obrigado pelo Menino Maluquinho, por Flics, pela Professora Maluquinha" não deixavam margem para dúvidas: embora polêmico e sem papas na língua, ele é um dos autores mais queridos do país.
Ziraldo não hesita em explicar, por exemplo, o motivo da diferença cultural entre Brasil e Estados Unidos:
– Os europeus, quando descobriram a América, vieram construir um novo mundo. Lá em cima, os ingleses encontraram a mesma temperatura (que na Europa), as estações todas juntinhas, avançaram terra adentro e só foram encontrar uma barreira nas montanhas rochosas, quando já tinham andado dois terços dos Estados Unidos. Mas aqui embaixo não tem nada de novo mundo. Os portugueses chegaram aqui, fazia 45ºC, a floresta era inóspita, e no que eles desceram na praia, andaram dez quilômetros e encontraram a barreira da Serra do Mar, que demoraram 300 anos para passar – diz, acrescentando que lá a colonização foi feita "com a Bíblia na mão", e aqui, "com a pá e a picareta", pensando-se em extrair riquezas, não em povoar.
O escritor também vê na época colonial uma explicação para a corrupção endêmica:
– A gente estuda no ginásio a abertura dos portos. Os portugueses não deixavam ninguém chegar aqui, mas, apesar da proibição, todos os navios vinham buscar madeira, iguarias, essa coisa toda. Quando diziam "não aportem, porque é proibido", respondiam, "ah, mas eu conheço o donatário da capitania"...
Na sexta-feira, durante bate-papo com estudantes na PUCRS, Ziraldo também falou da situação política atual ("acho que aqui todo mundo sabe que foi golpe"), avaliou que o mundo todo está pendendo para a direita, citando a eleição de Donald Trump nos EUA e o crescimento de Marine Le Pen na França, criticou o politicamente correto ("está havendo uma coisa libertária, que é muito maluca, porque o politicamente correto está sendo confundido com a libertação", declarou, depois de ter brincado com a professora que o apresentou que teria ido embora se ela tivesse se referido ao público como "todos e todas", seguindo "uma moda inventada pelo Sarney") e destacou a importância de participar de feiras do livro:
– Eu tenho de ir a toda feira do livro, eu tenho de chegar lá e fazer o meu discurso, porque é o seguinte, aqui no Brasil tem 50 ou 60 feiras do livro bastante movimentadas; na Suécia não tem nenhuma, porque não precisa, eles já leem.
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"O Brasil é um milagre", diz Ziraldo
Para escritor, país será a maior nação do mundo até o final do século
Maristela Scheuer Deves
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