Se a natureza é burilada pelo tempo, haicais são observações precisas desta faina interminável. O formato literário de origem japonesa composto de 17 sílabas distribuídas em três versos de cinco, sete e cinco sílabas poéticas respectivamente é obstinação e exercício recorrente de Gerda Bornheim, que lança sábado, às 15h, na de Arte Gerd Bornheim da Casa da Cultura, o seu livro de haicais Estações d’Alma.
É o primeiro livro da autora. Nele estão reunidas produções que começaram a ser feitas em 2002. Exercícios das caladas da noite, do momento de reflexão, dos encontros com a própria intimidade. Um processo criativo particular. Uma devoção à métrica precisa desse tipo de poesia.
– A fonte de inspiração de todo haicai é a natureza. Os olhos observam com precisão e atenção um determinado momento, que é mágico – observa Gerda, meticulosa e elegante.
Ela também alude à potencialidade do haicai ser uma espécie de fotografia da natureza. Só que em terceira dimensão. De novo, um apelo à disciplina para as construções das métricas poéticas precisas.
– Isso deve ser feito sem jamais deturpar o sentido desse momento mágico que os olhos captaram.
Talvez por isso o haicai seja mesmo um exercício do silenciar eloquente, da descrição econômica e precisa desses movimentos da natureza.
– Não temos os olhos da borboleta, com suas milhares de lentes, por isso temos que nos educar nesse olhar – ensina a autora.
Além do exercício individual nesse tipo de poesia, Gerda se articula com essa cena literária nacional integrando uma Oficina de Haicais de São Paulo. Também é sócia da Nikkei Bungatu, associação, que existe há 50 anos no Brasil. Já publicou haicais numa antologia da associação lançada em 2005 e deve integrar a nova publicação da entidade. E mais: em 2005 e 2006 ganhou prêmio da associação por seus haicais. Burilou a trajetória autoral como constrói, meticulosamente, seus versos.
– Sou exigente. O processo de criação exige um enamoramento, tem que lapidar, namorar, até chegar ao que se quer expressar – diz.
Assim, a seara poética de Gerda chega a um momento de maturidade. Seus versos têm ilustrações da amiga e artista plástica Beatriz Balen Susin. Como a autora, a ilustradora perseguiu as estações da natureza nas cores e formas. A primavera se destaca. Mas Gerda prefere o outono – sinaliza mais amadurecimento.
– Também aqui aconteceu um processo íntimo de criação das estações do ano e da vida – observa.
Outro aspecto significativo do exercício da escrita de Gerda é que os haicais andam se expandindo para outras formas poéticas. Se enlaçando com delicadeza e sutileza, características essenciais do gênero. Coisa para festejar em seus 82 anos de vida:
– A sensação de lançar meu primeiro livro neste momento é a alcançar um sonho importante na vida. Quero deixar os haicais para os amigos. Para que sintam as mesmas sensações que se pode ter diante da natureza, que é um universo imenso para a contemplação. Enquanto minha cabeça estiver boa, quero trabalhar, fazer poesia, fazer haicai.
PROGRAME-SE
:: O que: lançamento do livro Estações D’Alma, de Gerda Bornheim
:: Quando: sábado, às 15h
:: Onde: Galeria de Arte Gerd Bornheim, na Casa da Cultura (Rua Dr. Montaury, 1.333 – Centro – Caxias)
:: Quanto: a obra custa R$ 39,90
A obra
O livro tem 210 haicais e 240 páginas, editadas com recursos do Financiarte pela Quatrilho Editorial.