Em três bairros diferentes de Caxias, Galópolis, Vila Ipê e Pioneiro, três grupos se reúnem sistematicamente em torno de livros e leituras, gêneros literários, escritores e possibilidades de escrita no projeto Elos do Conto.
O Elos do Conto começou em 2014 e tomou mais fôlego, e forma, neste ano. Concebido pela escritora Helô Bacichette, busca outros espaços potentes para a leitura e o contato com o livro. Trabalha em contextos periféricos, ambientes de vulnerabilidade social, pensando em laços efetivos e afetivos de aprendizado. Leva escritores para conversar com meninos e meninas, estimulando a leitura e escrita deles.
- Existe, sim, uma rede que acredita que estes seres humanos precisam de oportunidade para se expressar - diz Helô.
- O Elos do Conto é um grande aliado para desenvolver autoestima e o protagonismo. É capaz de abrir novos horizontes na vida desses adolescentes que vem de um meio familiar e social extremamente vulnerável. Abre portas para a projeção de um futuro de possibilidades. E o mais importante: enquanto escrevem e se dedicam ao projeto, esquecem e afastam-se da realidade, cruel e obscura, gerada pela violência e pelas drogas - diz Lucimar Reginato Zardo, que coordena o grupo Laços da Amizade, no Pioneiro.
Outro projeto que ajuda adolescentes e jovens a fazer da leitura e da escrita um recurso de cidadania e inclusão social é a Mostra Literária Recria, que lançará sua nova publicação em outubro, na Feira do Livro.
- Isso ressignifica as vivências e cria novas histórias na vida das crianças e adolescentes - diz Inez Camargo Soso, coordenadora da rede.
No Vila Ipê, o trabalho do Elos do Conto é desenvolvido em parceria com Ong Joana DArc, que atente 70 crianças e adolescentes na Joana D'Arc com dança, teatro, artes circenses, música, composição literária, informática, taekwondo e relações interétnicas, entre outras. Mas às terças, nas oficinas do Elos, o clima pé de pura afetividade também. A moçada é animada e faz dos laços literários também laços de afetividade.
- A oportunidade de estar em contato com os autores das obras trabalhadas tem sido o grande destaque, pois os mesmos são motivadores e estimulam a leitura e a produção literária fazendo com que este grupo de crianças e adolescentes ampliem seus horizontes na visão de mundo e consciência crítica do mesmo à partir das obras abordadas e criadas - conta a coordenadora Ketty Duarte.
Também engajados na ideia, os oficineiros de Galópolis têm exercitado a escrita de poemas e haicais, olhando para a poesia também como uma manifestação sobre as coisas do mundo.
- Esta é uma geração espiritualmente bastante arrojada. Muitos são envolvidos com o grêmio da escola, são rápidos, críticos. Daí vai nascer muita coisa legal - aposta a professora e coordenadora Aline Ramos.
Neste contexto, Helô Bacichette acredita que há, sim, a possibilidade de formar uma rede de ação e construção de conhecimento fora do ambiente escolar, mas vinculado à potencialidade da leitura, escrita e formação de bibliotecas.
- Nesses encontros com escritores, nas leituras e escritas, são lançadas sementes e espero que isso frutifique na comunidade - diz a escritora.
