Os 130 anos da imigração italiana, celebrados em 2005, impulsionaram a publicação de um caderno especial com uma série de reportagens alusivas aos costumes dos primeiros colonizadores da região e seus descendentes.
Um dos conteúdos mais curiosos abordados pelo Pioneiro em uma reportagem de 20 de maio de 2005 destacou as casas daquele período - de 1875 ao início do século 20 -, a partir da colaboração dos historiadores Juventino Dal Bó, Loraine Slomp Giron e Cleodes Piazza.
Em 2020, quando chegamos a 145 anos do início do processo migratório, recordamos de parte desse material, agora ilustrado por duas imagens daquele que é o espaço símbolo desse modo de viver e morar primitivo: o Museu Ambiência Casa de Pedra, no bairro Santa Catarina.
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As características
:: A primeira moradia dos italianos foi o barracão.
:: A primeira casa construída pelos próprios imigrantes era provisória e feita de madeira, do alicerce ao telhado.
:: As telhas de madeira eram chamadas de “scandole”. Para sua confecção eram cortadas pequenas toras de madeira com cerca de 30cm de comprimento. Depois, com o auxílio de um machadinho, eram feitas as lascas. Cada lasca era uma telha.
:: Só o piso não era de madeira. chão batido.
:: A chamada casa “definitiva” dos italianos já era bem diferente. Construída em madeira, pedra ou tijolos de barro, apresentava uma diferença primordial em relação à moradia anterior: possuía porão, onde eram guardadas as pipas de vinho e pendurados os salames. A maioria delas tinha o porão de pedra e a parte de cima, de madeira.
:: Em muitas delas havia lambrequins, ornamentos em madeira que formavam uma espécie de renda com desenhos florais ou geométricos, enfeitando os beirais dos telhados - como vê-se nos casarões do Centro Histórico de Antônio Prado e no Instituto Hércules Galló, em Galópolis.
:: A cozinha era separada da casa de dormir. Ficava distante para evitar que acidentes com o fogão pudessem atingir a moradia.
:: O primeiro fogão chamava-se “fogolar” ou “larin”. Era construído com quatro tábuas ou tijolos e preenchido com terra. Fazia-se um buraco onde colocava-se lenha para atear o fogo. A panela ficava pendurada no teto por uma corrente (foto abaixo).
Outras curiosidades
:: A casa de dormir era o local onde ficavam os quartos e uma sala grande. Nela ocorriam os dois principais ritos de passagem das famílias: o casamento e o velório.
:: A cozinha aproximou-se da casa de dormir somente quando o “fogolar” foi substituído pelo fogão de chapa, que tinha a mesma estrutura que o anterior, porém, com uma chapa em cima, que evitava a propagação da chama pelo ambiente. O fogão de chapa foi o precursor do fogão à lenha.
:: O banheiro era construído separado da casa até nas melhores moradias, que já tinham encanamento de água e esgoto da pia. Isso ocorria porque os italianos entendiam que tudo que era sujo deveria ficar longe da casa.
:: Somente depois dos anos 1950, o banheiro passou a ser incorporado às construções dos italianos, principalmente dos residentes do interior. Mesmo aqueles que contratavam arquitetos para planejar as moradias, pediam que o banheiro fosse separado.
:: Até esse período quem reinou absoluto dentro de casa foi o penico, guardado embaixo da cama e usado só em caso de emergência.
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A Casa de Pedra
A Casa de Pedra foi erguida por volta de 1885 pelos irmãos Giacomo, Antonio e Luis Lucchese, chegados a Caxias seis anos antes, em 1879, e estabelecidos na antiga 9ª Légua. Os Lucchese detiveram a posse da casa até 1918, quando ela foi adquirida por Jacob Brunetta. Nessa época, além da construção de pedra, havia uma casa de madeira, ambas ligadas por um passadiço.
Conforme informações disponibilizadas pelo Arquivo Histórico Municipal, a casa de madeira foi substituída por uma maior, onde os Brunetta instalaram um armazém, um matadouro e um açougue – pontos de comércio e hospedagem para os tropeiros da época.
Já em 1946, a propriedade foi adquirida por David Tomazzoni e os três filhos – em 1974, esse casarão de madeira, localizado onde hoje situa-se o parreiral e o Monumento aos Tiroleses, também foi demolido, restando apenas a casa de pedra propriamente dita.
O espaço chegou a ficar ameaçado, mas, com a proximidade do centenário da imigração italiana no Estado, a prefeitura negociou o local com a família Tomazzoni, tornando-se proprietária da área e dando início ao processo de restauração.
Surgia aí, graças ao trabalho incansável da professora Maria Frigeri Horn, o Museu Casa de Pedra, inaugurado em 14 de fevereiro de 1975, durante a Festa da Uva.
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