A primeira edição surgiu em outubro de 1937 e, na capa, já dizia a que vinha: "O Assombro é um assombro de verdade e nasceu para inticar com gregos e troianos". Falamos do meteórico jornal que circulou em Caxias em edições esparsas entre finais de 1937 e meados de 1938, mesclando ironia, humor, deboche e críticas explícitas à sociedade caxiense e aos comportamentos da época.
O tom pândego era explicitado desde o expediente. Diretor: S.O.S. Gerente: Eu… Redatores: uma infinidade… Tudo para evitar complicações com os autores dos textos, "um grupo de caxienses bambas", como eles se definiam. O texto de apresentação vinha nessa linha:
"Leitor amigo. Serei simples, sincero e alegre. Não vestirei roupas escuras e nem verei a vida pelo lado pessimista. Procurarei conviver contigo, oferecendo-te alguns momentos de prazer. Envidarei esforços no sentido de fazer-te sorrir, pois precisamos encarar a existência com entusiasmo sadio. Se for malicioso, perdoa. Não tenho a intenção de envenenar a tranquilidade alheia. Anima-me a esperança de alcançar meu objetivo, compreendendo que a brincadeira é mais útil às criaturas humanas do que as narrativas que fazem chorar. Apresento-me à tua generosidade e creio que me auxiliarás, contagiando-me com o teu contentamento. É o que espero".
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Direção
Com o avanço das edições, os pseudônimos e brincadeiras do expediente foram dando lugar a alguns nomes que respondiam pela publicação, como Ítalo Rossi, Assis Bonalume, Waldomiro Tartarotti e Santin Coltro.
As edições completas podem ser acessadas no site da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul www.camaracaxias.rs.gov.br, no link Centro de Memória (jornais).
Os leitores
Nem os leitores eram poupados das observações da equipe:
:: De cada 100 pessoas a quem o jornal elogia, no máximo duas ou três cumprem o seu dever de cortesia de agradecimentos
:: De cada 100 pessoas a quem o jornal criticou algo, só um, quando muito, reconhece a justiça nisso e deixa de se tornar inimigo.
:: Dos muitos que mandam colaboração para o jornal, poucos são os que não se ressentem quando não é ela publicada.
:: Grande parte da colaboração enviada gentilmente é de assunto de interesse pessoal de quem a envia.
:: Todos criticam e poucos aplaudem e são muito mais exigentes e descontentes os que nada produzem para o jornal.
Raio X
Uma das colunas mais divertidas era a Quem É, atrelando as inicias do nome das pessoas a seus comportamentos. Em uma breve folhada nas primeiras edições de 1937 era possível deparar com as indagações abaixo:
Quem é?
:: A moça que gosta de namorar na igreja? L. R.
:: A estudante que ficou muito convencida depois que viu a sua fotografia numa revista? T. Rosa
:: O rapaz que sai do matinê, vai em casa pentear o cabelo, botar pó de arroz e vem passear na praça? S.C.
:: O grupo mais convencido de Caxias? Das F.
:: O rapaz que admira-se no espelho, julgando-se muito bonito? A.C.
:: A guria que banca o Tarzan para colher ameixas?
:: O rapaz felizardo que na Festa de Santa Catarina trocou de pequena três vezes? A.F.
:: A trinca de garotas que, nas imediações da Garage Modelo, brigou por causa de futebol? L. P. e C.
:: A pessoa que pensa ter sangue azul? C.S.
:: O velhote metido a Don Juan que apanhou de tamanco da criada? I.
:: A solteirona que concluiu o Curso Complementar e passou a falar difícil?
:: A moça que costuma fazer demonstrações de pernas nos bancos da Praça Dante?
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