Nas imagens acima e abaixo, a cerimônia que recordou os 50 anos de falecimento da poetisa Vivita Cartier, realizada no cemitério do Pontão, em Criúva, em 1969. Na sequência, o mesmo local 50 anos depois, em 2019, quando o escritor Marcos Fernando Kirst, autor da biografia O Ocaso da Colombina, lançada em março, também prestou uma homenagem a sua mítica "personagem".
Quatro fotos separadas por cinco décadas, mas o mesmo contexto: o resgate de uma trajetória interrompida há um século, em 21 de março de 1919, cujos detalhes o público poderá conferir nesta terça (10) à noite, durante um bate-papo com o autor no Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami (leia mais abaixo).
Assim como a breve vida de Vivita, as dua únicas imagens de 1969 também têm um história curiosa, detalhada por Kirst no livro:
"O cinquentenário de sua morte também motivou um grupo de tradicionalistas de Caxias do Sul e dos arredores a prestar, durante a Semana Farroupilha de 1969, uma significativa homenagem à memória da poeta enterrada em Criúva, uma das capitais das tradições gaúchas da região serrana do Estado. Junto ao Cemitério do Pontão, compareceram diversos patrões dos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) da região, levando flores ao seu túmulo. Para a ocasião, o historiador Mário Gardelin (foto acima, ao centro) mandara fazer uma placa de bronze na qual consta parte da inscrição dos versos que Vivita desejava que figurassem em sua tumba, aproveitando o momento solene para afixar ali a homenagem, que segue até hoje no local".
Além de Gardelin, nas imagens acima e abaixo aparecem ainda Joaquim Pedro Lisboa, João Baptista Machado Vieira, Antonio Felippi e Clóvis Pradel Pinheiro, entre outros nomes do tradicionalismo local.
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O túmulo
Em relação ao túmulo de Vivita, Marcos Fernando Kirst menciona na página 141:
"O túmulo de Vivita Cartier chama a atenção do visitante devido à sua estrutura incomum, mesmo para os padrões da época em que foi erigido. Lápides centenárias rodeiam a solitária "habitação funérea" da poeta, muitas delas maltratadas pelo tempo e pelo abandono. Várias são aquelas que não possuem mais nenhuma espécie de identificação que aponte a identidade daquele que ali jaz em paz há tantas décadas. A de Vivita, por sinal, é identificada tão somente pela placa de bronze retangular assentada sobre a pedra dura do túmulo, em que constam gravados três versos do poema "In Pulvis" que ela concebeu para que lhe fosse usado como epitáfio na lápide. A placa com a assinatura da autora dos versos nela contida é a indicação única de que é Vivita Cartier quem repousa ali, bem na entrada do cemitério, a segunda tumba em linha reta ao portão de acesso. Data de nascimento e morte não constam na inscrição, tampouco uma foto ajuda a identificar o corpo sepultado. O texto gravado na placa, em letra cursiva, diz assim:
Segue... que importa a habitação funérea?
Minh'alma paira além com seus fulgores.
Volve-te a ella,
a ella manda flores...
Vivita Cartier"
Visita ao túmulo
Abaixo, dois registros da visita do autor Marcos Fernando Kirst ao túmulo de Vivita Cartier no dia do aniversário de um século de morte, em 21 de março de 2019. À direita estão ainda o historiador Robson Rangel Cioato , Juliana Castilhos Vacchi (diretora da Escola Estadual João Pilati, de Criúva), o produtor cultural Claudio Troian e o padre Tadeu Antonio Libardi, pároco de São Marcos.
Vivita nas escolas municipais
Um nome importante quando se fala em manter viva a memória e a obra de Vivita Cartier é o do pesquisador, historiador e museólogo Juventino Dal Bó. Conforme o autor Marcos Fernando Kirst, em junho de 1992, trabalhando na Biblioteca Pública Municipal, Dal Bó ajudou a organizar um projeto denominado "Poetas Caxienses", que tinha como principal objetivo lançar luz à longa tradição poética produzida em Caxias do Sul desde os primórdios de sua fundação.
"A iniciativa fazia parte de um amplo trabalho desenvolvido pela então Secretaria Municipal de Educação e Cultura, que visava a incentivar a leitura e a produção de textos junto aos alunos da rede municipal de ensino. Em depoimentos à imprensa na época, Dal Bó chamava a atenção ao fato de que a produção poética e literária estava presente no processo de colonização e construção da cidade de Caxias do Sul desde os primórdios. Com o intuito de divulgar o projeto "Poetas Caxienses" não só nas escolas, mas também na comunidade, a Secretaria imprimiu uma edição de seis cartazes destinados, cada um, a um dos poetas enfocados na iniciativa: Vivita Cartier, Vico Thompson, Antonieta Lisboa Saldanha Lins, Cyro de Lavra Pinto, Olmiro Palmeiro de Azevedo e Ítalo Balen. Cada cartaz continha uma pequena biografia do escritor, sua foto e a reprodução de um poema de sua autoria. O de Vivita Cartier trazia o poema In Pulvis".
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As cartas
As cartas originais escritas por Vivita Cartier perderam-se ao longo dos anos, restando apenas cópias preservadas pelo historiador Mário Gardelin. Conforme Kirst no livro, em 27 de agosto de 1915, Vivita datou, em Criúva, uma carta para a irmã Rachel, então já casada e residindo no Rio de Janeiro.
"Minha querida Rachel
Junto a mim tua muito querida cartinha que com prazer respondo, desejando-te felicidades ao lado de Evaristo e querido Eglon. Quanto a respeito de minha saúde, penso dizer-te que tenho sempre continuado sem novidades e com sensíveis melhoras, o que muito deve admirar aos grandes doutores Fracasso e mais Carbone, que não me davam, há nem um ano atrás, dois meses de vida. Não tenho seguido tratamento nenhum pois nunca mais consultei os médicos depois de examinada pelos que acima aludi. Remédio nenhum, absolutamente, a não ser este grande fortificante de fascínio universal, "Emulsão de Scott", que tenho sempre usado com grande constância e a que atribuo em parte meus melhoramentos".
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Agende-se
:: O que: Colóquio no Arquivo Histórico Municipal João Spadari sobre o livro "O Ocaso da Colombina: a breve e poética vida de Vivita Cartier", obra do jornalista e escritor Marcos Fernando Kirst
:: Quando: nesta terça (10), às 19h
:: Onde: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami (Av. Júlio de Castilhos, 318 — Lourdes)
:: Quanto: entrada franca
Parceria
Parte das informações desta página foi publicada originalmente no perfil do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami no Facebook.
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