A notícia da chegada de uma réplica da Estátua da Liberdade na RS-122, em frente à futura megaloja Havan, traz à tona uma história que muita gente desconhece. Caxias do Sul conta com uma Estátua da Liberdade desde 7 de setembro de 1922. E bem no coração da cidade.
Instalado na Praça Dante Alighieri por ocasião do centenário da Independência do Brasil, o monumento, na verdade, representa a liberdade de Portugal conquistada em 1822. É obra de dois mestres que deixaram profícua herança artística e arquitetônica no município: o construtor Silvio Toigo (autor da coluna, do pedestal e da balaustrada) e o escultor Michelangelo Zambelli (responsável pela escultura em si e seus ornamentos).
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Estátua sentada
Conforme informações contida no livro "Os Filhos da Arte - Documentário Artístico de uma Família de Imigrantes", de Irma Buffon Zambelli, a estátua foi idealizada por Michelangelo e executada no atelier de seu irmão, Estácio Zambelli, por ter mais condições de espaço. A escultura recebeu molde em argila e foi fundida em cimento.
Porém, antes de ficar pronta em definitivo, sofreu alguns "imprevistos". Segundo o relato do livro, "o peso da massa do corpo não resistiu, e sua frágil estrutura dobrou-se na altura dos joelhos, caindo para trás. Como havia às suas costas uma parede, deu a impressão que a estátua havia sentado".
Refeita e devidamente instalada na praça, a uma altura de 12 metros, a estátua repousa sobre uma coluna de oito metros e meio, em cimento armado. Faz ângulo com os dois primeiros monumentos erigidos em Caxias, em 1914: os bustos de Dante Alighieri (à esquerda) e Júlio de Castilhos (à direita), olhando-se a partir da Avenida Júlio - segundo historiadores, a disposição dos três monumentos na Dante dialoga com a simbologia maçônica (o triângulo).
Na sequência, em 1925, Caxias ganharia seu quarto monumento: o obelisco em homenagem aos 50 anos da imigração italiana, instalado no também recém-inaugurado Parque Cinquentenário. Mas este encontra-se sem identificação e abandonado há tempos, nos fundos do parque.
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A inauguração
A programação alusiva ao centenário da independência ocorreria durante quatro dias, de 7 a 10 de setembro de 1922. Mas o mau tempo adiou a festa para o dia 8. Conforme divulgado pelo antigo jornal Cittá Di Caxias, às 5h, ocorreu a alvorada com a bateria de morteiros e o repique de sinos em todas as igrejas.
A Estátua da Liberdade (na época chamada de Coluna da Independência) foi inaugurada às 9h, com a presença em massa da população, de autoridades locais, do Tiro de Guerra 248, do Conselho Municipal (embrião da Câmara de Vereadores), de associações esportivas e recreativas, clero, escolas públicas e particulares, capelas, congregações religiosas e uma banda de música. Tudo tendo como orador o coronel José Penna de Moraes, então o intendente do Município.
Também houve missa ao ar livre na Praça Dante, parada do Tiro de Guerra, celebração na Catedral Diocesana e sessão cívica no antigo Theatro Apollo (Cine Ópera).
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Detalhes
Quando surgiu, em 1922, a Estátua da Liberdade situava-se em um ponto mais elevado da praça. Anos depois, com as mudanças no terreno e as reformas urbanísticas, as escadarias e a balaustrada (conjunto de colunas de concreto que serviam de apoio e proteção, como se vê na sequência abaixo) foram suprimidas do entorno, descaracterizando o conjunto original.
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As inscrições em mármore
Ao norte: O Município de Caxias no primeiro centenário da Independência do Brasil. 7 de setembro de 1922
Ao leste: Homenagem. Aos pioneiros da indústria vitivinícola da região colonial italiana: Dr. Antonio Casagrande, Abramo Eberle, Dr. João Maria Paldaoff, AntonioPieruccini, Felice Laner, Dr. Ricardo Machado, Luiz Antunes & Cia e Dr. Ildefonso Simões Lopes. A Comissão Diretora da 3ª Festa Regional da Uva: Dr. Celeste Gobbato, Joaquim Pedro Lisboa, Rodolpho Rossarola, Dr. Luiz Faccioli e Marcos Fischer. Oficializada pelo Prefeito Municipal, Cel. Miguel Muratore. Patrocinada pelo Interventor Federal Gal. José Antônio Flores da Cunha, sob os auspícios do Ministro da Agricultura, Major Juarez Tavora, e com o concurso dos estabelecimentos vinícolas da região colonial italiana. 18 de fevereiro a 4 de março de 1933.
Ao sul: Sob a administração do Coronel Penna de Moraes, intendente reeleito para o quatriênio MCMXX-MCMXXIV (1920-1924)
A oeste: (1875-1933) Ao colono, que em 57 anos de profícua atividade irmanado à indústria, ao comércio e sob a égide de governos patrióticos, transformou o Campo dos Bugres na Metrópole Intelectual e Industrial da Região Colonial Italiana. Homenagem da Prefeitura Municipal e da Comissão Diretora da 3ª Festa Regional da Uva. 18 de fevereiro a 4 de março de 1933.
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