Um dos pilares da educação é a presença de bons professores. Um desses papéis é preenchido pelo profissional de Educação Física, que terá, na próxima sexta, dia 1º de setembro, seu trabalho lembrado graças ao Dia do Profissional de Educação Física. Em 1974, destacava-se Marco Antonio Crespo, professor de Educação Física do Cristóvão de Mendonza, em Caxias.
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Na época, o profissional coordenou um grupo de alunos que acabou vencendo o campeonato estadual de handebol da escola. O fato teria sido esquecido na memória dos integrantes se, anos depois, um dos alunos, já adulto, não tivesse decidido enviar uma carta ao professor, parabenizando-o pelo trabalho na época. Em 2015, o envio da carta oportunizou o encontro dos alunos com Crespo, juntamente com Juliano Viegas, que também lecionava na escola na década de 1970.
Na foto acima, o registro da turma de garotos, agora adultos, e o professor que marcou a lembrança de todos. Aparecem na imagem: Luchesi, Gilmar Cavion, Vladimir Martha, Carlos Alberto Tedesco, Nei Rama, Marcílio Gonçalves Filho, Marco Antonio Crespo, Juliano Viegas, Picoli, Antonio Carlos Fogaça e Fernando Soriano.
Crespo foi, além de treinador de basquete, o treinador do handebol infantil – campeão Estadual, nas finais no campeonato daquele ano. No comando do handebol juvenil estava o professor Juliano Viegas, e, no futebol masculino, Luiz Felipe, o Felipão do Caxias. Em reportagem do Pioneiro de 14 de setembro de 1974, o jornal publicou uma matéria com os garotos vencedores, onde, na foto, apareciam os alunos João, Cavion, Máximo, Guerra, Antonio Carlos, Volnei, Vladimir, Marcílio, Juliano, Carlos Alberto Camargo, Giusto, Gerson Costamilan e Julio Miguel.
Na foto acima, tirada em 1974, no estádio Alfredo Jaconi, aparecem (da esquerda para a direita): Professor Juliano Viegas, Carlos Alberto Camargo, Cavion, Vladimir, Gui Marcussi e Primo Pícoli (em pé) e Luchesi, Volnei Rama, Claudio, Marlom, Marcílio e Juliano Demoliner (agachados). O professor Luiz Felipe, treinador, então zagueiro do Caxias, quase nunca comparecia em razão de jogos da equipe Grená. Em razão disso, o professor Juliano Viegas o substituiu na ocasião. (Foto: Acervo pessoal Marcílio Filho, divulgação)
Confira a carta:
"Caro Professor Crespo!
Conforme combinado, recebes hoje o que prometi. E a pretensão da garrafinha? Muita. Oceânica, talvez. É que traduzir fatos guardados em nossas memórias com tanto carinho, é tarefa gigantesca para uma simples garrafinha de água. Mas mesmo assim, vale pelo seu pequeno grande símbolo.
Assisti recentemente a um filme sobre grande líder mundial. Mandela.
Em determinado momento e antes de importante campeonato mundial, ele dirigiu-se ao treinador da equipe e perguntou: "o que você pode fazer para um time ir mais longe do que ele próprio pensa que pode alcançar?".
A frase-pergunta remete-me diretamente aquela equipe infantil de handebol do Cristóvão de Mendonza. E, resguardadas as proporções, a situação fática das equipes do Cristóvão e da África do Sul guardam semelhanças.
No nosso caso, o treinador, por força das circunstâncias, foi o Professor Crespo.
O campeonato estadual foi disputado em Novo Hamburgo em dois dias. Sábado e domingo. Sequer tínhamos esperança de passar do sábado. A eliminação precoce em nossas mentes? Fato inevitável!
Em três campeonatos anteriores fomos vice-campeões. Em todos perdemos para o Carmo. E nas finais.
Iniciado o campeonato em NH também iniciou o trabalho do treinador Crespo.
E desde o início ele disse uma frase. "Eu quero pegar o Carmo". Esses, evidentemente estavam em outra chave e só os alcançaríamos nas fases finais.
Primeira partida, primeira vitória. Reinício de uma nova era.
As jogadas que antes não davam certo ressurgiram com vigor. Quando haviam falhas, ou eram corrigidas no intervalo, ou no próprio jogo em andamento.
Dito por outras palavras, a equipe se equilibrou em meio ao campeonato e, passando fase por fase, chegamos à semifinal que, de fato, foi contra o Carmo.
Eu, pessoalmente, lembro como entrei na cancha. Disfarçadamente olhava com o canto do olho para o professor. Mais um pouco, sou capaz de repetir cada gesto dele naquele banco. Tive que me controlar para não tremer e outros colegas também estavam assim. Mas nem eu e tampouco os meus colegas deixariam de jogar aquela partida por qualquer motivo.
O final da partida não poderia ser outro. Vencemos e por sete a quatro (smj).
E que felicidade!
Momentos para todos nós de inabalável e incontrolável alegria.
Mas o verbo da frase usada pelo professor (que todos nós sabíamos inconscientemente) não era pegar, mas sim: "Eu quero ganhar do Carmo."!
E ai, fomos para a final.
Ganhamos por sete a cinco e nós atletas-alunos vimos que um professor pode ir lá embaixo onde está o aluno e lá os alcança pelas mãos, cada um deles, e, passo a passo, sobe a escada. E mostra com trabalho, dedicação e carinho como chegar ao objetivo.
Há quem diga que o objetivo foi o de ser campeão estadual para o Cristóvão de Mendonza (Ao que sei, ganhou apenas duas vezes). Pode ser.
Mas há mais!
Outras lições que o professor deu, nas linhas e nas entrelinhas. E que muitos de nós, tenho certeza, seguiram ao longo de suas jornadas... e maior das lições foi, sem dúvida, a de "nunca deixarem de acreditarem em vocês mesmos". E que trabalhem para isso!
E olha que eu nem sei se o professor que estava no exercício regular do seu trabalho naqueles dois dias, por 48horas direto (eis que responsável direto por 12 menores ou mais), se o Estado promoveu sua justa e merecida contraprestação.
Por mim e por meus colegas
Obrigado Professor Crespo
Simples assim!
Pelotas, Caxias do Sul, Rio de Janeiro, Camboriú, Mato Grosso... e demais lugares onde estejam meus colegas que formaram aquela equipe.
03 de dezembro de 2015.
Marcílio Gonçalves Filho"