Alinhada com o que vem acontecendo na Europa, em que antigos espaços de culto por vezes dão lugar a museus – um exemplo clássico, mas não único, é a Basílica de Santa Sofia, em Istambul, na Turquia –, a Universidade de Caxias do Sul (UCS) vai realizar, em setembro, a transferência do acervo do Documenta Costumes para o espaço da Capela Santa Francisca Xavier Cabrini, no Campus 8.
Os dois milhares de itens relativos à história da Serra Gaúcha (incluindo vestidos de ex-soberanas da Festa da Uva, peças raras que datam do Século 19 e até mesmo originais do pintor italiano Aldo Locatelli) serão realocados, segundo o diretor da área de conhecimento de Artes e Arquitetura da UCS, Givanildo Garlet, em razão da preservação e da visibilidade. O espaço anterior, já desativado, não comportaria mais o acervo e seria de difícil manutenção:
– A capela será um espaço transitório. Futuramente, teremos um espaço novo para o Documenta, em que o acervo poderá ser melhor explorado e que poderá abrigar também outras mostras. Queremos criar um novo conceito do espaço do Campus 8, como um grande centro regional de economia criativa, e para isso todo o prédio passará por restauro.
Como o material do Documenta é organizado em módulos removíveis, sua exposição na capela não inviabiliza o uso do espaço para cerimônias, garante Garlet. Além disso, a demanda pelo templo tem sido muito pequena, bem diferente dos tempos em que a Cabrini atraía numerosos casais que queriam celebrar sua união em meio a seus coloridos vitrais:
– Neste ano, tivemos apenas um casamento, em fevereiro, e teremos uma formatura neste sábado. Mas quando houver algum evento, é possível mover as peças para os apartamentos situados atrás da capela.
Ainda não há previsão de por quanto tempo os vitrais coloridos e o altar de mármore da Capela Cabrini emoldurarão o acervo do Documenta. O edital para o projeto de restauro das edificações do Campus 8 deve ser lançado nos próximos meses, e, assim que tiver um resultado, a previsão é de que essa fase de projeto dure de 10 a 12 meses.
– É para o médio e longo prazo. Só com o projeto em mãos é que a universidade poderá buscar parcerias para conseguir os recursos necessários à restauração – diz Garlet.
Capela pode virar museu?
O uso de uma capela – um espaço religioso – para abrigar um acervo histórico pode soar estranha para muitos. No entanto, o padre Elton Aristides, assessor da Diocese de Caxias do Sul, não vê problemas na transferência da Documenta para a Cabrini, pelo fato de a capela não pertencer à Diocese e pelo seu uso ser temporário. Mesmo assim, diz, permanece sendo uma igreja. Caso o espaço fosse ser transformado definitivamente em outra coisa, como aconteceu com alguns templos europeus, aí, sim, explica o sacerdote, seria necessário um rito de dessacralização, em que uma cerimônia é feita para eliminar o caráter sagrado do local.
O complexo do antigo Colégio Santa Francisca Xavier Cabrini, hoje Campus 8, é também patrimônio tombado pelo município desde 2012. Por isso, quando for concretizada a restauração em estudo pela universidade, o projeto deverá passar por uma análise da Divisão de Proteção ao Patrimônio Histórico e Cultural do município, ligado à Secretaria da Cultura. O uso como museu, porém, é liberado:
– Intervenções que não interfiram na sua estrutura e não descaracterizem o bem são permitidas – diz a coordenadora da divisão, Heloise Salvador.
Ampliação
Além das restaurações, a ideia é construir um novo prédio no Campus 8, que abrigue startups, o acervo do Instituto Bruno Segalla e o próprio Documenta.