Em virtude do Dia internacional da Mulher, comemorado neste 8 de março, relembramos a importante presença feminina na construção da identidade de Caxias do Sul. Destacam-se, nesse cenário, importantes segmentos dessa história, como o antigo Clube da Margarida e o posterior Clube Esporte Gaúcho – que, além da força feminina, trouxe consigo a representatividade negra.
Segundo o autor João Spadari Adami, “em 12 de dezembro de 1933, Caxias do Sul vê surgir o Clube das Margaridas, feminino e composto de gente de cor”.O surgimento de associações quase que exclusivas para negros foi uma espécie de resposta à segregação imposta pelos clubes, associações e espaços sociais nas primeiras décadas do Século 20 na cidade. Entre eles, o Clube das Margaridas, idealizado por mulheres que buscavam um espaço de lazer para seus filhos, e a Sociedade Recreativa Gaúcho.
Conforme o historiador Fabrício Romani Gomes, autor da dissertação e livro Sob a Proteção da Princesa e de São Benedito – Identidade Étnica, Associativismo e Projetos num Clube Negro de Caxias do Sul (1934-1988), o Clube das Margaridas foi fundado em 12 de dezembro de 1933.Já no ano seguinte, em 23 de junho de 1934, surgia o Esporte Clube Gaúcho. O nome foi uma escolha da diretoria, formada por vários militares vindos com o 9º Batalhão de Caçadores de Pelotas.
O objetivo? Destacar o orgulho de serem brasileiros nascidos no Rio Grande do Sul e marcar a presença negra no Estado.
O pioneiro Clube da Margarida
O clube foi e ainda é referência na construção e afirmação da identidade social das mulheres negras em Caxias do Sul, além de ser o pioneiro em clubes onde a representatividade negra era predominantemente presente. O Gaúcho, por sua vez, representou muito mais do que um antigo clube de negros.
Dedicou-se inicialmente ao futebol, mas foi responsável também pela promoção de bailes, festas, quermesses, cursos e diversos outros eventos. Tudo com o propósito de fortalecer os vínculos da população negra e combater a segregação e o visível racismo e discriminação da época.
A luta atual
Juçara Quadros recorda o passado, quando era barrada em clubes sociaisEm 2015, o Pioneiro fez uma reportagem sobre o dia da consciência negra, onde Juçara Quadros, sobrinha de um dos fundadores do Clube Gaúcho, conta sua experiência perante o preconceito.
Ela frequentou o clube desde criança e conta que, para os eventos sociais, era preciso vestir traje adequado. Na época de sua mãe, por exemplo, havia o Baile da Seda e o Baile do Veludo, destacando os tecidos finos empregados na confecção dos vestidos.
Sob essa ótima, torna-se ainda mais evidente a importância de clubes como o Clube da Margarida e o Clube Gaúcho para a afirmação da identidade negra e o impedimento do esvaziamento desta cultura, e reforça a importância da lembrança no dia de hoje, voltado à mulher, e da conversa sobre as lutas necessárias contra o preconceito.