A recente coluna sobre os cachos de uva e as folhas de parreira que decoram o passeio da Praça Dante Alighieri trouxe à tona as lembranças sobre a trajetória do imigrante português José Barbosa de Oliveira (1908-1991), responsável pelo calçamento de pedras portuguesas símbolo da área central de Caxias.
Chegado a Caxias em 1940, após passagens por Pelotas, São Leopoldo e Porto Alegre, Barbosa logo conseguiu trabalho nas obras de modernização viária da cidade. Após trabalhar na pavimentação da Av. Júlio, em 1943, o calceteiro recebeu do prefeito de Caxias do Sul, Dante Marcucci, e do secretário de Obras, José Ariodante Mattana, o convite para executar o projeto de assentamento de pedras na Praça.
Pisando em uvas: o calçamento de pedras portuguesas da Praça Dante
Conforme recorda a neta Vanessa Falcão, o avô tinha o maior orgulho por ter efetuado esse trabalho - mesmo anos depois, Barbosa fazia questão de levar parentes, amigos e outras visitas que recebia para conhecer a praça. Um trabalho, inclusive, reconhecido pela prefeitura: em 25 de abril de 1947, o profissional recebeu um atestado do prefeito Dante Marcucci destacando sua "competência, dedicação e honorabilidade nos trabalhos executados com calçamento", em especial os desenhos de uvas e folhas de parreira do principal logradouro da cidade.
Já em 10 de julho de 1962, Oliveira foi admitido como servidor público municipal na gestão do prefeito Armando Biazus, atuando como Fiscal de Calçamento da Secretaria Municipal de Obras. Após se aposentar, Oliveira dedicou-se ao artesanato em madeira. Fazia miniaturas de igrejas, navios, brinquedos e outros utensílios. Nenhum para venda: ou presenteava amigos e familiares ou expunha na sala de estar de casa.
Seu "Pelotas" ou Zeca, como era conhecido, faleceu em 7 de junho de 1991, aos 82 anos. Mas seu legado permanece sob os pés de quem transita pela Dante até hoje...
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Homenagem em 1984
Uma das principais homenagens a seu José Barbosa de Oliveira chegou no início dos anos 1980. Foi quando o ex-prefeito Mario Vanin, que também foi presidente da Festa da Uva de 1984, recebeu em sua residência, defronte à Praça Dante Alighieri, o maestro Zaccaro, então apresentador da TV Bandeirantes.
O músico ficou encantado com os desenhos de uvas que avistava pela janela do prédio e sugeriu que se fizesse uma homenagem a quem trabalhou naquela obra. Dito e feito: o maestro realizou um show no dia 14 de outubro de 1983, junto à sua orquestra - o espetáculo foi uma das atividades preparatórias da Festa da Uva do ano seguinte. Já em 1984, durante a Festa, Oliveira recebeu uma homenagem na Praça onde realizou seu principal trabalho.
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A família
Filho de José dos Santos Oliveira e Margarida Domingues Barbosa Oliveira, seu José nasceu em 2 de agosto de 1908 na cidade do Porto, em Portugal. Era o segundo de 10 irmãos (Bernardino, José, Joaquim, Anthéro, Margarida, Antonio, Carlos, Henrique, Agostinho e Maria Adelaide).
Chegada ao Brasil, em 1913, a família desembarcou no porto de Santos (SP), mas em seguida ficou sabendo que havia um grande reduto de imigrantes portugueses em Pelotas, migrando para lá.
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Após idas e vindas pela região metropolitana, Oliveira retornou anos depois a Pelotas para cumprir uma promessa feita a jovem Georgina Sá Feijó: casar-se com ela. A cerimônia ocorreu dia 8 de setembro de 1933. No ano seguinte, o casal seguiu para Porto Alegre, onde, em agosto de 1934, nasceu a primeira filha, Iolanda. Já por volta de 1940, a família chegou a Caxias.
Por aqui nasceram as outras quatro filhas (as gêmeas Irone e Ivone, Hilda e Ilza Maria). Primeiramente, eles se hospedaram na pensão da família Ioppi, localizada na Rua Marquês do Herval, esquina com a Rua Pinheiro Machado - que depois se transformaria no famoso Hotel Real. Posteriormente, o núcleo familiar se estabeleceria na Rua Hércules Galló.
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Vizinho do Juventude
José Barbosa de Oliveira fez o calçamento de inúmeras ruas da cidade, inclusive da Hércules Galló, onde viveu até o final da vida, no nº 1.500. Como residia em frente ao Esporte Clube Juventude, acabou tendo uma longa e forte ligação com o clube.
Era o sócio nº 34 e foi diretor de patrimônio em diversas gestões, ajudando no dia-a-dia e envolvendo, por consequência, a família. A esposa, Georgina, costurava e fazia ajustes no fardamento dos jogadores. Houve época em que ela até lavava e passava o uniforme dos atletas.
Paixão verde e branca
Toda essa paixão verde e branca perpassou gerações. O único neto, o famoso e polêmico torcedor Padilha (Éverton José Oliveira Padilha), teve sua vida intimamente ligada ao clube, com atuação destacada desde criança: foi mascote, assessor, dirigente e conselheiro.
Já a neta Vanessa Iolanda Oliveira Falcão, mesmo nascida em São Paulo, foi levada ao estádio e deu sequência a tradição da família logo que chegou à cidade, em 1993. Vanessa foi integrante da primeira gestão do Conselho Jovem e teve atuação nas torcidas organizadas Mancha Verde e Nação Verde - nesta última foi presidente por três gestões.
Parceria
Informações desta coluna são uma colaboração de Vanessa Iolanda Oliveira Falcão, neta de seu José.
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