Um lugar que nasceu, cresceu (apesar de nunca ter mudado de lugar), se consolidou, virou ponto de referência e deu frutos. Assim pode ser definido um dos mais famosos redutos da Av. de Castilhos - e de Caxias. Falamos do Bar 13, que nesta sexta (13, óbvio), expande sua tradição inaugurando o Botequim 13, em uma sala anexa do não menos tradicional Edifício Galeria Adelaide.
Inaugurado em 13 de fevereiro de 1967 por Sady De Carli (1927-2010) e a esposa, Zóla Venzon Guidalli, o Bar 13 deu sequência a uma bem-sucedida investida de Sady na área gastronômica, ainda nos anos 1950: o bar A Cigana, na Av. Júlio, onde o famoso bauru caxiense teria dado "as caras" pela primeira vez.
Turbinado pelas amizades de Sady, pelas iguarias de dona Zóla (1930-2013) e pelo crescimento da cidade em direção ao bairro Lourdes, o novo bar dos caxienses logo caiu no gosto da clientela. E "fervia" mesmo aos finais de tarde, horário do "aperitivo" - o atual happy hour.
Era quando saíam as deliciosas torradas de três camadas, os pães servidos com moela e coração de galinha, as batidas mesclando leito e frutas como abacate, banana, maçã e pêssego, e o lendário sanduíche aberto, com camadas sobrepostas de presunto, queijo, tomate, ovo duro, palmito, pepino e uma azeitona no palito.
Sem falar nas rifas, outra coqueluche da época: entravam aí desde carros, eletrodomésticos, televisores e até perus recheados e tortas de final do ano - enfim, tudo que o "bigodudo" inventava de sortear ganhava ampla repercussão na cidade.
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Até os anos 1980
Sady De Carli seguiu no comando da casa até o início dos anos 1980. Após ser vendido para o político Luis Carlos Festugatto em 1983 - por meio de uma intermediação feita com o amigo Pedro Bassanesi -, o bar foi adquirido pelo empresário Walmor Berzaghi, o Cabeça.
Além de manter o mesmo quadro de funcionários, o endereço seguiu, a partir de 1984, como ponto de visitação obrigatório de políticos, além de sediar as votações para o lendário concurso Mala do Ano. Mas todos os detalhes dessa segunda fase do bar você confere na coluna desta sexta-feira.
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Número de sorte
O nome Bar 13 foi uma sugestão da sogra, Angelina Guidalli, "para dar sorte" - ideia que teve a adesão imediata de Sady, da esposa Zóla e das filhas Jezebel e Mara.
Sady gostava de números e não dava bola para a associação negativa com o 13. "Para o meu bar, o 13 será o número de sorte", contou Sady ao escritor Luiz Carlos Ponzi, em 2002.
Lógico, o bar abriu num dia 13. E a data de estreia de seu mais novo "rebento", o Botequim 13, 49 anos depois, não poderia ser mais adequada: nesta sexta-feira 13 de maio.
Botequim 13 inaugura nesta sexta, dia 13
Ferradura desenhada pela filha
Filha de Sady e Zóla, a artista plástica Mara De Carli tinha 13 anos quando recebeu do pai uma folha de caderno com o pedido: "Desenha aí uma ferradura e o número 13, que vai ser o símbolo do bar".
- Eu fiz na hora, meu pai pegou o desenho e levou para fazer em acrílico, para colocar na fachada. Foi na antiga Mapro, que fazia luminosos. Nunca me dei conta que tem três cravos de um lado e quatro do outro. Era adolescente, devo ter feito na displicência - conta Mara.
Se a filha Mara desenhou a ferradura-símbolo, coube a uma das netas de Sady, a arquiteta Jéssica De Carli, continuar mantendo a família atrelada à história do lugar. Quando buscava reformar o bar e expandir o negócio, Valmor Berzaghi contratou Jéssica, sem saber dos laços de parentesco entre ela e Sady. Uma coincidência que não passou em branco.
Em 2010, Jéssica projetava o Boteco 13, na Estação Férrea. Em 2016, é o Botequim 13 que surge com layout criado pela neta de seu fundador.
- Destino é a palavra que resume toda essa história. Não há como desvincular a vida do bar da família De Carli. E é um lugar que dialoga com a memória social, com a revitalização e preservação do espaço urbano. Vida longa ao Bar 13 - conclui Mara.
Senadinho
Apelidado de "Senadinho", por reunir políticos de opiniões bastante diversas na época da ditadura militar, o local também impunha respeito entre o público feminino, muito pela presença de dona Zóla.
- Mulher não entrava em qualquer ambiente nos anos 1960 e 1970, mas o Bar 13 era liberado, por ser esse ambiente familiar, com minha mãe sempre lá - conta a filha Mara De Carli.
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Parceria
Parte das informações desta coluna integra o livro "Bar Treze: Lazer, Política e História", de Luis Carlos Ponzi, lançado em 2002.