Faço coro àqueles que esperam e comemoram – com veemência – o fim de 2016. Como se houvesse, de fato, um portal, capaz de transportar para um lugar onde as energias todas estarão alinhadas e fluindo, tal qual a passagem dos (novos) dias. O que me interessa, nesse momento, é a "virada de chave", a reflexão que a troca de ano pressupõe.
E, sim, posso olhar com pesar para todas as dificuldades – as minhas, dos que me rodeiam, da economia, da política, da conjuntura mundial... Não faltam motivos para reclamar! Posso, no entanto, perceber a mescla entre altos e baixos que, no final das contas, mostra que as coisas nem foram tão ruins assim. Imagino que a minha realidade não seja tão diferente das outras, esse é somente um pequeno recorte pessoal e que pode parecer ínfimo a outros olhos.
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Fiz três mudanças de casa em 2016: aprendi a procurar objetos em caixas para poder usá-los, desapeguei de uma série de itens que estão repousando em algum canto. Com as mudanças, reforcei laços com algumas das pessoas mais importantes da minha vida, que estiveram ao meu lado para embalar, desembalar, carregar caixas e emprestar malas, ombros e sorrisos. Encaixotar e desencaixotar virou metáfora de amizade e cumplicidade, e o gesto reforçou a ideia de que uma carga dividida sempre fica mais leve. Voltar para casa nunca teve significado tão forte de acolhida.
Virei doutora, concluindo um percurso árduo o suficiente para quem decidiu estudar e trabalhar ao mesmo tempo, tentando fazer a mediação entre a academia e a "vida real", levando um universo para dentro do outro, ouvindo críticas, ponderando e tentando manter a serenidade ao longo do processo. Vi o quanto conseguimos ser múltiplos – o somos o tempo todo e somos ainda melhores quando nos desafiamos.
Perdi o convívio com minha avó materna – minha última ligação com a infância mágica – e reaprendi a evocá-la através das boas lembranças, do salto altíssimo e da doçura no contato com as pessoas. Vale tentar fazer isso com as pessoas que ainda estão por perto, antes das despedidas.
Fiz um mergulho profundo nos meus sentimentos, mudei de vida, passei a me conhecer melhor (por mais doloroso que o autoconhecimento possa ser), encontrei tanta gente linda pelo caminho, recebi tanta energia boa e deixei outras vibrações estranhas (com respectivos donos) irem embora. Entre partidas, houve muito mais chegadas: coragem, força e amor.
Percebi que é preciso perder para ganhar – e posso até acreditar no poder do novo ano. Mas, confesso: prefiro acreditar em mim e nas mudanças que sou (somos todos) capaz de fazer.
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