Eu sou minha própria estrela guia, sou minha Dalva, o cruzeiro do meu Sul. Tudo o que sou vem da educação que recebi em casa, na escola e na vida. Cada dia é uma tentativa. Tenho tentando ser melhor, nem santa nem a outra coisa, só melhor. Construí-me sobre chão batido, solo fértil regado pelas mulheres que vieram antes de mim. Honro minha história, a da minha mãe e a da minha filha ao tomar as rédeas do meu destino.
Desde que nascemos, mulheres, ouvimos vozes nos dizendo como agir, o que sentir, como pensar e até como sonhar. Mas chega, para mim isso acabou. Mundo, não espere que eu me mova para te agradar. Isso não vai mais acontecer. Sua satisfação sempre veio à custa da minha tristeza e confusão sobre quem eu realmente era. E eu descobri que não me importo mais com a sua opinião. Chega de tentar caber em moldes alheios, chega de me ajustar ao que esperam de mim. Agora, sigo a trilha que eu mesma tracei, de salto fino em passos firmes.
Precisei correr dez vezes mais para chegar em terceiro lugar, mas cheguei. Caindo e levantando, desiludida e desacreditada, eu cheguei. Desistir nunca foi uma opção. Com sonhos, moldei minha realidade, mas não foi só de sonhos que vivi. Infelizmente, sonhos não enchem barriga. A gente precisa sonhar na prática, planejar, definir metas, executar. Sou uma sonhadora profissional que não dorme. Meus sonhos não me mantêm imóvel, me fazem mover montanhas.
Estou atenta, desperta, ligeira. Enxergo claramente minha evolução, reconheço minhas falhas e, mesmo assim, me alegro com o reflexo do meu ser no universo. Por isso, não arredarei o pé. Permaneço aqui, dentro de mim, sem intenção de ir a lugar algum. E, se vou, é porque minha mente decidiu e minhas pernas me levaram. Não sigo a corrente, traço meu próprio curso. A vida me ensinou resiliência, me ensinou a transformar queda em impulso.
Mulheres se inspiram em mulheres, vencem grandes batalhas — e às vezes até guerras — porque veem outras como elas no combate. Tive que enfrentar todo tipo de infortúnio, colhendo dia após dia os frutos amargos de ser mulher, jovem, negra-não-retinta e pobre em um mundo machista, racista e classista. Viver num mundo assim é osso, mas a cada queda, me levantei mais forte. Cada cicatriz é uma medalha de honra, um testemunho da minha resistência.
Sim, aprisionaram nossos corpos e comportamentos por séculos, mas nunca conseguiram prender nosso espírito. Nossa alma há muito está liberta. Falo por todas quando digo que não retrocederemos, nem um passo. Avançaremos, sempre. Nossa força está em nossa resiliência, em nossa capacidade de transformar dor em poder. Cada mulher que se levanta carrega consigo a força de gerações que vieram antes e a esperança de gerações futuras.
Eu sou meu próprio norte. Não arredarei o pé, nem darei um único passo para trás. Tenho orgulho e plena consciência da mulher que me tornei e sei bem o preço que paguei para chegar até aqui. Mundo, não espere que eu retroceda, não importa o que aconteça. Estou firme, de pé, com o olhar voltado para o horizonte e avançando sempre adiante. A estrada é longa, meu espírito é indomável e eu sou imparável.