Ser adulto é um pouco chato, né? Na verdade, confesso, quase todo o tempo. Ser uma mulher-mãe-trabalhadora é bem chato, sabia? A gente tá sempre na função de algo: cuidar da cria, levar e buscar da escola, ser produtiva, fazer mercado e feira, pagar boletos infinitos, ficar bem mental e fisicamente… Chato demais!
A vida-função, a vida-livro-de-ponto, por vezes e tantas não nos permite o sentir, o desejar, o experienciar, o gozar. Sobretudo, a nós, mulheres-mães, nunca nos é entregue esse ciclo de vida tão natural. Logo nós que sabemos acordar e cuidar até o adormecer. E, para além disso, temos Ensino Superior em chegar ao final das coisas com sucesso. Vejam como prova, ora, pois, a bonita vida dos nossos rebentos.
Eu ainda fico chocada quando ouço alguém (geralmente, homens) questionando a funcionalidade de uma mulher-mãe. ‘Por supuesto’, sem drama e sem ego frágil , em verdade vos digo que qualquer mulher-mãe faz tudo melhor que os demais. Vivemos de metas batidas, tá ligado?!
Mas, indiscutivelmente, tem algo que fazemos melhor que os demais. Algo forte e não bom. Mães não conseguem ser amadas com leveza como o resto do mundo. Não entendemos bem do amor-descanso, o amor-bobeira, muito menos do amor que dorme despreocupado no braço de outrem sem pensamentos de fuga, pois alguém pode (ou não) necessitar de nós.
Dia desses, uma amiga e eu conversávamos sobre o quanto é complicado estar enamorada reciprocamente de alguém decente. Duas mães-solo a dividir uma mesa de bar, num tempo contado em que nossa família nos permitiu ter liberdade. O tempo foi curto, nossa intensidade estava a milhão.
Nos encontramos em nossas dores e persistências. É que depois de tanta ilusão, conflito e dor, como podem as criaturas, entre criaturas, amar? Mas a gente ama e ama fortemente. Mas, sempre com medo de que tudo desabe outra vez sobre nossas cabeças.
Depois de tanta ilusão e malfeitos amorosos, eis que nós nos vemos ainda capazes de sentir coisas lindas e românticas. Sabemos reconhecer o interesse do outro por nós, mas temos dificuldade de aceitar a entrega do outro e viver aquilo que é momento, que é real, que merecemos.
Ficamos apaixonadíssimas, mas estamos sempre a duvidar da futura felicidade. Sempre a questionar o porquê geramos interesse em quem quer que seja. Reconhecemos nossa beleza, nossa força, afinal, mães são o que há de mais belo no mundo. Sabemos!
Mães, especialmente as solo, são seres quase que sobrenaturais. Criaturas com raízes fortes e coração latente, ansiosas por amor real, mas bastante criteriosas em suas escolhas, pois tudo afeta a vida das crias. Mães não têm tempo a perder pois são apaixonadíssimas por suas conquistas.
Apaixonadíssimas, somente!