Há algo incrivelmente bom em amadurecer que é se assumir. Aceitar que somos o que somos, sentimos o que sentimos, lidamos com as coisas com as possibilidades que temos para lidar. E, que, em suma, no final, está tudo bem, pois essa é a nossa verdade. Eu, por exemplo, sou uma mulher, cotidianamente, em construção, tentando ter responsabilidade emocional comigo e com o mundo.
Eu tive um amor, ele foi imenso, não o tenho mais. Por vezes as coisas deixam de nos servir, como aquele jeans amado que vestia tão bem e hoje não sobe às coxas. Mas eu tive esse amor, foi imenso, gosto de pontuar. E abrir mão dele foi como se eu fosse desossada, naquele momento acabou — momentaneamente — minha estrutura.
Eu estaria mentindo se dissesse que desisti daquele sentimento dotada de plenitude, que quisesse que a pessoa encontrasse em alguém a paz que eu não tive pra lhe dar, ou a compreensão que eu não soube ter, ou, até mesmo, que espero que ele encontre o amor infinito que se perdeu no caminho que dividimos. Eu poderia ser essa pessoa superior que encerra ciclos sendo evoluída, mas eu não sou. Definitivamente, eu não sou. Ainda!
Minha evolução é íntima demais para que eu consiga enxergar o outro, estender a mão. Não tenho mais asas que suportem peso que não seja da minha própria carga. Sozinha voo alto, fiz dores de uma vida toda, alavanca para subir, alcanço o céu, encontro o sol, ardo mais que ele. Sou lava vulcânica todo dia. E me derreto toda em fogo.
Seguirei sem aquele amor, engolindo o que nunca pude lhe dizer ou o que lhe disse embriagada. Sabendo que, dentro da minha incoerência, ele pouco compreendeu, ou nada. Vou em paz, lidando com toda sorte de azar que acolhi sob o batuque descompassado do meu coração.
De fato, preciso ir. É a única certeza que tenho. Não tem mais lugar pra mim fora de mim. O mundo não me cabe, não há nada fora da minha pele. Tentei acolher o universo sempre e esqueci do colo que me devia àquela pequena garota do interior, que cresceu em desamparo emocional.
Dei a esse amor mais do que ele pediu, muito mais. Doação é da minha personalidade, não aprendi outra coisa na vida que não isso. Vou doando, fui, no caso. Quando me esgotei eu estava sozinha num imenso vazio sem saber o que fazer. Preferi partir.
Espero que minha partida não anule cada beijo, fresco ainda em minha memória, nem o quanto nossos corpos unidos faziam o mundo girar mais rápido por baixo do cobertor, muito menos de cada longa conversa que pés que se amam têm se entrelaçando, noite após noite, por anos a fio.
Levo duas malas gigantes, nosso amor frutificado e o sentimento de dor brutal desse fracasso que é o mais vitorioso que poderia existir, sabendo que se eu não o acolho, o mundo te agarra. Sorte dele, eu sei a sensação maravilhosa de ter algo belo impresso na pele.
Foi assim que me despedi do amor que eu sempre quis, tive, e não soube lidar.