Foi em 2019, lembro bem até hoje. Eu estava em outra cidade, correndo de um lado para o outro com diversas coisas em mãos como se fosse um polvo e pudesse carregar o mundo comigo. Era uma feira de livro, então obviamente eu me dividia entre dar autógrafos, tirar fotos e conversar com quem se aproximasse. De quebra, inventei de transformar algumas das minhas frases em copos, com diferentes cores e estampas, e então passei a andar com diversas tripas debaixo do braço também. Naquela ocasião em específico, um escritor bem mais experiente que eu, já sentado em uma cadeira e apenas me observando, previu meus próximos anos ao afirmar: “você vai cansar”.
É claro que eu duvidei. Naquele momento, preferi continuar embriagado no que me restava dessa disposição dos jovens adultos e, mesmo que em silêncio, preferi não escutar e acreditar no contrário. “Eu sou diferente”, falei para mim mesmo, crente do tanto de energia ainda disponível para queimar. Ao menos naquele instante, era impossível me ver parando tão cedo ou deixando de fazer aquilo que sempre me diferiu de outros profissionais da mesma área. Eu queria continuar não fazendo o básico, aquele mais do mesmo, ou ao menos o esperado. Urgia em mim a necessidade da reinvenção contínua, do autodesafio cotidiano, da criatividade escancarada em forma de trabalho a fim de me testar e me provar o tempo todo.
Acontece que, exatos quatro anos depois, estou cansado.
Procurei entender se tudo não passou de um reflexo pós-pandêmico, em que todos nós freamos de alguma forma e posteriormente tivemos que recomeçar – aos poucos, porém ainda inseridos em uma sociedade ansiosa. Não quis acreditar que foi por conta da idade, do acúmulo de aniversários em dois ou três piscar de olhos, porque quando eu digo isso qualquer pessoa responde com “mas você é muito jovem ainda”... Bom, não sei mais. Se eu fosse mesmo, onde é que foi parar a minha disposição?
Felizmente ou não, não estou só. A cada palestra, encontro mais e mais jovens exaustos (e cada vez mais cedo). Quem sabe a resposta não seja uma somatória, então. O combo já conhecido de pós-pandemia + rotina exaustiva / sociedade ansiosa e medicada = estamos todos cansados.
Na última semana recebi um diagnóstico de Burnout. A síndrome do trabalho em excesso. Logo eu, que palestro sobre o assunto... Logo eu, que até ontem não me via com a necessidade de pisar no freio antes que qualquer outra adversidade freasse por mim... Parei. Na medida que dá, é claro, porque não podemos deixar para amanhã o que é urgente, e nem para depois o que é importante. Se bem que... O que não é urgente ou importante atualmente?