Se eu fecho os olhos, ainda lembro da voz da minha mãe pedindo para arrumar alguma bagunça que eu tinha deixado em um canto da casa quando era criança. “Já vai”, eu resmungava. A minha vontade era ser gente grande logo e poder arrumar quando eu quisesse, porque no fim eu tinha certeza de que colocaria tudo no lugar. Então aquela insistência maternal era ligeiramente difícil de ser compreendida, e se não tivesse medo de escutar outros gritos eu com certeza questionaria: “essa pressa toda é pra quê, hein?”.
A vida adulta chega e nos tornamos pais dos nossos filhos e contradizemos nossas reclamações. Para o bem ou para o mal, fazemos porque tem de ser feito. E muitas vezes fazemos porque os prazos existem, o nosso futuro está em jogo, e a cobrança é muito maior do que lá atrás, quando bastava arrumar os brinquedos espalhados pelo chão. Entretanto, há que se enxergar o lado bom no meio disso: não deixar para amanhã pode proporcionar um hoje mais satisfatório, feliz e recompensador.
No último mês, reconectei minha alma de criança com o teatro, atividade que eu parei lá pelos 8 ou 9 anos de idade. E para a minha surpresa, fazia anos que eu não realizava alguma coisa que me deixasse verdadeiramente feliz e apaixonado – aquele tesão de fazer o que se faz, sabe? Não deu outra: uma das minhas metas para o próximo ano foi iniciar aulas de teatro para poder destravar, comunicar e me portar melhor. A urgência me pareceu óbvia e que me questionei como consegui ficar todo esse tempo afastado de algo que, desde lá atrás, sempre quis retomar. E foi assim que uma nova vontade foi parar no meu caderninho de metas.
Por sorte (e longe de acreditar no acaso), o mundo chacoalhou por uns segundos – o suficiente para me acordar de mim mesmo. “O que é que eu estou esperando?”, questionei para o espelho. Refazendo a frase, então: e foi assim que uma nova vontade se tornou realidade. Ali, no ato mesmo.
Devidamente matriculado, comecei a fazer aulas de teatro na semana mais cheia e complicada do meu ano. No meio do caos é que surgem as boas ideias, dizem isso (d)os artistas. Durante um exercício para se soltar enquanto somos vistos, lembrei da mãe lá atrás gritando para eu dar um jeito em tudo. Pois bem... Dei um jeito, mãe. E dei um jeito agora mesmo, sem deixar para depois ou até mesmo depois de amanhã. Nada de “já vai, já vai”... Porque quando a gente vê, tudo já foi mesmo. Então o negócio é ser quando se quer e se pode.