Minha amiga está trabalhando em outra cidade e, mesmo já tendo completado 26 anos, ela ainda recebe conselhos da sua mãe. Desde a mudança, o mais frequente tem sido sobre o perigo de ir ou voltar sozinha, já que a qualquer momento um pneu pode furar (no mínimo). Chegamos a conversar sobre como esse MIDM (Mundo Incrível das Mães) tende a parecer um pouco pessimista – é como se elas adiantassem uma tragédia que pode nem vir a acontecer. Rimos sobre o zelo maternal até o último final de semana, quando a minha amiga pegou a estrada sozinha pela primeira vez e, bem... O pneu do carro furou.
O karma do MIDM realmente funciona. Não é como se as mães desejassem coisas negativas, longe disso, mas parece que realmente existe um pacto entre elas e a DMDM (Deusa Maior das Mães) para entregarem essas situações a nós. É como se isso tudo acontecesse porque precisamos aprender – e, claro, dar o braço a torcer depois de escutar o famoso “eu não te disse? Eu avisei!”.
O mesmo aconteceu comigo no famoso dia da neve que vivemos esse ano. Recebi um alerta sobre os perigos de dirigir naquele tempo, mas as três quadras pareciam inofensivas para mim... Até bater o carro na metade do caminho. Antes de pensar em qualquer estrago físico do automóvel, pensei em cada estrago que a gente faz quando não escuta quem nos quer bem. “Mãe, você estava certa” foi a primeira coisa que eu disse quando ela atendeu o telefone para avisá-la que o alerta de 5 minutos antes deveria ter sido escutado, e não apenas ouvido (existe uma grande diferença).
Um dos pontos que mais defendo no meu trabalho é que o reconhecimento póstumo não vale de nada. Assim sendo, estaria sendo contraditório se eu não lutasse pelo mesmo reconhecimento em todas as outras esferas, principalmente a familiar. Então aqui está: mãe, você estava certa. Em todas as frases, em todos os conselhos, em todos os momentos que eu bati o pé e quis discutir, crente de que sabia de tudo, menos daquilo que ainda estava para viver e que você já tinha vivido. Mesmo com adaptações, você já tinha visto aquele filme, e por mais que fizesse parte do seu papel materno permitir com que eu tivesse alguns arranhões para que assim aprendesse, você ainda assim cochichou: cuidado. Com sorte, os anos me fizeram entender que a sua voz é a primeira que eu devo escutar.
Realmente, você sempre esteve certa, mãe. E lembra daquele documentário que eu te mostrei que falava sobre a necessidade de sermos vulneráveis (que nada tem a ver com fraqueza)? Bom, depois disso tudo, aproveito para acrescentar: estou com saudade do teu colo.