“Por que poesia virou mercadoria que todo mundo tem para vender mas ninguém quer comprar?” é a pergunta presente em um artigo escrito por Fabrício Carpinejar para a revista Superinteressante. O questionamento é válido, basta perguntar para qualquer dono de editora ou livraria e perceber o nariz torcido. É um consenso baseado em números reais: poesia não vende.
Em um país como o Brasil que compra 0,8 livro por ano (a média não alcança nem um livro inteiro), um dos gêneros mais marginalizados sobrevive com muito esforço durante as últimas décadas. A resposta para isso talvez esteja na ideia de que a poesia – ao menos da forma que se conhecia – já não existe mais. Quem seria o Drummond, a Cecília ou o Vinícius de 2021?
Lembro de ter conhecido a poesia de uma forma diferente durante o tempo de faculdade. A poesia como linguagem, encarada de um modo mais acadêmico, culta e com todas as suas métricas, talvez atenda os universitários e aqueles mais entendidos, e por isso mesmo eu acredito até hoje que intitular-se poeta é uma decisão corajosa. Sempre tive medo de alguém me brecar: “isso não é poesia”.
Mas o que é a poesia, então?
Acredito ser sentimento. Tudo aquilo que é narrado de forma intensa e que carrega o peso de uma vivência que não deve ser esquecida. Todo mundo quer escrever poesia porque todo mundo sente. O tempo todo. Eu mesmo fazia poemas de amores não correspondidos no auge dos meus 12 anos, todos devidamente escondidos em um baú com cadeado e chave para ninguém acessar. Eram rimas cafonas e que jamais teria coragem de expor ao mundo, mas foi ali que comecei a reconhecer a escrita como forma de se expressar, como escapismo ou até desague. Mas a poesia está em todo lugar, em todas as formas, dentro e fora da gente, escondida ou escancarada por aí, mas sempre intangível.
Nos últimos anos, a dominação global da internet fez com que a poesia contemporânea se espalhasse depressa e, para os mais entendidos, as palavras e estrofes manjadas resultam em algo que poderia ganhar qualquer nome, menos poesia. Estou falando da mesma galera que diz que “não se faz mais música como antigamente”, o que não deixa de ser uma verdade. O mundo é outro, a sociedade também é (é a velha máxima de que “tudo se transforma”). E sim, existe muito material bom sendo produzido por artistas que, felizmente, ainda estão vivos. A questão é: quantas vidas levaremos para reconhecê-los?
Entre pular de bungee jump e lançar um livro de poesias, acredito que o segundo exija mais coragem. Não só porque uma editora não vê interesse no assunto (uma vez que ela é uma empresa e também tem contas a pagar), mas talvez porque nós não estejamos preparados para ler poesia – principalmente nestes tempos loucos em que vivemos. Afinal, a poesia faz refletir, ela assusta e muitas vezes nos desperta. A poesia cutuca, nos mantém inquietos, faz com que a gente se afogue em um poço de sentimentos e questionamentos instalado no centro de um mundo frio e caótico. Obviamente acaba sendo muito mais fácil manter-se no topo, boiando nas linhas ficcionais de um romance com final previsivelmente feliz – no fim das contas, é o que todos buscamos, não?