O Sol já atravessa o céu de Virgem. Uma imagem para essa etapa zodiacal é a do arco-íris. A luz solar, branca, ao encontrar no ar prismáticas gotículas de água — de alguma chuva recente —, se reparte nas sete cores de seu então oculto espectro. Não há quem não se encante com o arco colorido que o céu exibe, na sequência de faixas em vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. E o espetáculo de potente plasticidade logo conduz nossa imaginação a conexões metafísicas. Pois ali está uma explícita ligação entre o plano celeste e o terrestre.
Nossa cultura ocidental há muito projeta no arco-íris um referencial de ordem. No Gênesis bíblico, após o dilúvio, Deus garante a Noé e filhos: “Ponho o meu arco nas nuvens, para que ele seja o sinal da aliança entre mim e a terra”. Ou seja, doravante não haveria mais punitivos dilúvios a exterminar as criaturas vivas. Deus aponta o arco-íris como um lembrete também para si mesmo desse pacto de vida entre o criador e suas criaturas.
Não sei o quanto dessa visão simbólica está em nossa memória ou mesmo em nosso inconsciente, mas é fato que, após uma tempestade, a réstia solar que se insinua dentre as nuvens, alimentando algum arco-íris, imediatamente nos conforta e enche de esperança. O semicírculo colorido será garantia de um melhor tempo, sem dúvida nenhuma. É promessa de ordem depois do breve caos meteorológico. Promessa de vida.
E como o Sol transita por Virgem, cedo aqui à tentação de buscar por mais detalhes sobre o arco-íris. Começo pela própria palavra. Em francês, é arc-en-ciel, um arco celeste. Em italiano, é arcobaleno, um arco em clarão. Em inglês, é rainbow, arco de chuva — ou por causa da chuva. Já em português e espanhol, a palavra alude a Íris, personagem da mitologia grega. Íris era a mensageira dos deuses antes de Hermes/Mercúrio entrar em cena. O arco colorido era sua rota revelada na tarefa de conectar o divino e o mundano.
Também acho fascinante Íris emprestar seu nome à parte de nosso olho em torno da pupila. Cabe à íris regular a entrada de mais ou menos luz, a depender das condições do ambiente, fazendo a pupilar aumentar ou diminuir. É feito o diafragma de uma máquina fotográfica. Convém lembrar, a cor de nossos olhos está na íris. E como minha pátria é minha língua — não é, Fernando Pessoa? —, acho o máximo saber que, em português, as cores de Íris ligam meus olhos aos céus.
O arco-íris traduz a luz solar, desdobrando-a num feixe colorido, enquanto minha íris ocular, diante do fenômeno de refração, ajusta-se às condições luminosas para revelá-lo a mim. Esse jogo de filtros é bem peculiar a Virgem, signo de análises e exame das partes que constituem um todo. Na antiga relação dos signos com as cores, é comum associarmos a Virgem as sete cores do arco-íris, como a ilustrar seu impulso decodificador e sintético.
Em pratos limpos, como Virgem gosta, devo concluir, por óbvio, que o arco-íris sempre anuncia um aumento de luz depois de algum sombrio temporal. Com mais claridade, nossa íris fará a pupila diminuir, não carecendo de tanta abertura para fazer a luz externa entrar. É um sistema de comunicação e interação tão perfeito que só mesmo obra divina. E embora semelhante entre os humanos, cada ser tem uma íris única — qual uma digital. Por isso, é cada vez mais comum a identificação biométrica pela íris.
E cá me encontro com meus olhos únicos, entre peculiaridades e anomalias. Como Virgem é associado à saúde, ao buscar conectar as partes e o todo, há uma corrente alternativa de diagnóstico chamada Iridologia — não reconhecida pela medicina — que mapeia o estado funcional de nossos órgãos pelo exame da nossa íris. (Certa feita, uma acupunturista chinesa olhou minha íris e foi certeira em falar sobre meu estômago). Sei lá, são olhares, tanta coisa a testar, arcos de visão a ampliar. E decifrar é verbo virginiano.