A Terra é azul, revelou o astronauta russo Yuri Gagarin em 1961, ao descer do primeiro voo tripulado ao espaço. Desde então, o azul identifica nosso inteiro lar planetário, mesmo que, dentro dele, vejamos em azul somente o céu e o mar. Na vastidão cósmica, aparecemos como um “pálido ponto azul”, no dizer do cientista Carl Sagan. Essa cor resulta da reflexão da luz solar sobre a peculiar atmosfera terrestre. Por conta das diferentes condições superficiais ou atmosféricas dos demais planetas, estes terão outras cores aos nossos olhos, como o amarelado de Vênus e o vermelho de Marte. No lindo colar de contas coloridas que é o sistema solar, o azul da Terra vai combinar com outros tons da mesma cor vindos de Urano e Netuno. São os planetas azuis.
Aqui, talvez o azul seja a cor mais citada nas canções. Associada às imensidões infinitas do céu e do mar, costuma simbolizar os anseios humanos. “O amor é azulzinho”, canta Djavan. “Ter um sonho todo azul / Azul da cor do mar”, ecoa Tim Maia. “Me deixa morar nesse azul / Me deixa encontrar minha paz”, emenda Tom Jobim. Amor, sonho, paz: a lista de associações vai longe. E em inglês é ainda maior, já que azul é blue, e blue pode ser tristeza, melancolia, nostalgia... E o que dizer do blues, gênero musical oriundo dos cantos de trabalho e de fé dos negros americanos e que toca fundo como nenhum outro? “Tudo azul” nem sempre quer dizer “tudo em paz”. Há sempre alguma dor, alguma falta, nas profundezas do azul.
Em Planeta Blue, Milton Nascimento fala desse “lado escuro do azul”: “Além de cor, blue é também muito triste / Pode ser o lado nu, o lado pra lá de cru”. Sim, agora há essa crueza, esse desalento em que naufragamos. Ai, ai, Brasil, que cantas que em teu céu o azul é mais azul! Aqui, tristeza não tem fim. Cadê a alegria do indefinível azul da Portela na avenida? Cadê a paz de viver qual um barquinho a deslizar no macio azul do mar? Ansiamos pelos claros do azul. E aqui entram os irmãos azuis da Terra. Urano, em seu tom turquesa, foi batizado com o nome do antigo deus dos céus, enquanto Netuno, pelo azul profundo, ganhou o nome do senhor dos mares. Céu e mar, ar e água, moradas de sonhos possíveis, reinos do azul.
Urano é o regente de Aquário, signo de ar, dos ideais humanistas e futuristas. Urano é o azul doido do espaço, porque esse astro gira deitado, diferente dos outros, fora da regra. O azul uraniano é o dos sonhos alternativos e utópicos. É convite para rebelar-se, fugir do tradicional e experimentar, ousar. Urano é invenção e ciência, justiça social e liberdade. É a ação em rede, de mãos dadas, mirando uma humanidade integrada entre si e à natureza.
Mas, como a rede uraniana também anda envenenada pelo ódio que separa e violenta, então que nos purifique o azul compassivo de Netuno. Que nos salve o impulso de entrega e misericórdia de Peixes, signo de água, regido por Netuno. O azul oceânico de Netuno dissolve nossos limites e defesas: já não podemos ficar indiferentes ao sofrimento alheio, porque ele
vaza e entra em nós também. Azul de Netuno é azul do espírito, que transcende as fronteiras mentais e compreende. E acolhe e cura.
Planetas azuis, uni-vos, na consciência da dor e no anseio por redenção! Que a Terra deprimida receba os azuis de Urano e Netuno como luzes de libertação e compaixão. O visceral blues coletivo que hoje nos prostra também nos revela que somos todos iguais: carentes habitantes de um pálido ponto azul no espaço, mas com o poder de brilhar quando unidos.