Volto a Medellín. Não por causa da seleção colombiana que atropelou os brasileiros e vai encarar os argentinos na final da Copa América. Volto para explicar, por um outro viés, como a cidade deixou de ser a capital sangrenta do Cartel de Medellín, para se tornar a capital da cultura e da educação, celeiro de inovação, e a segunda cidade mais visitada da América Latina, depois do Rio de Janeiro.
Circulando por Medellín, em passeios guiados pelo cientista político Jean-Edouard Tromme e pelo antropólogo Santiago Uribe Rocha, a todo instante nos indicavam lugares que haviam passado pelos que eles chamam de “mudança de simbologia”. De cidade do crime para uma cidade pacificadora é um dos mais impactantes, sem dúvida. Não porque os homicídios foram extintos. Óbvio que não. Contudo, não importa por onde se ande, seja pela outrora temida comuna 13 e, hoje em dia, o bairro mais visitado da cidade, ou pelo Poblado, dos bares e restaurantes descolados, a sensação de segurança é evidente.
Para mim, o lugar que atesta a maior mudança de símbolo é A C4TA - Cidadela da Quarta Revolução. Antes de se tornar em um centro universitário, esse espaço abrigava o Presídio Feminino Bom Pastor. Em suma, sai de cena um prédio de encarceramento, para brotar ali, no mesmo espaço, um complexo de 13 edifícios independentes, distribuídos em 60 mil metros quadrados. Abandonado em 2010, o presídio foi transferido para outra área de Medellín.
O que fazer, então? Deixar que o prédio virasse ruína e, apesar do pó, permanecesse ali o símbolo do cárcere? Não, mesmo. A comunidade se organizou e reivindicou. Surgiu então a ideia de, baseado no conceito de “mudança de simbologia”, investir na construção de algo que pudesse beneficiar a população mais carente, na fronteira das comunas 12 e 13. E do que a população naquele entorno mais precisava? De uma ponte de ascensão social. A arma utilizada? Educação. Foi assim que surgiu a Cidadela da Quarta Revolução.
Em fevereiro, no início do primeiro semestre deste ano, o centro universitário, que congrega diferentes instituições no mesmo espaço (ITM, Pascual Bravo e o Colegio Mayor de Antioquia), recebeu 3 mil estudantes, focados em cursos da indústria 4.0, entretenimento, cultura e cinema. Além de salas de aula convencionais e polivalentes, a Cidadela oferece ainda biblioteca, auditório, quadras de vôlei e basquete, pista de corrida, campos de grama sintética e ciclovia.
E lembrei disso tudo, também, porque a comunidade da Serra sonha, há muitos anos, com a instalação de uma universidade pública. Inclusive, é um baita pretexto para exercitar o conceito de “mudança de simbologia”. Sejamos criativos, não precisamos copiar Medellín e transformar o Presídio Regional em uma universidade. Enfim, tema de casa para os políticos que almejam ser prefeitos nos municípios da Serra.
Dia desses, retomo o assunto. Afinal, qual é o futuro que nós queremos?