Dentro das quatro linhas, o Esquadrão Canarinho passou vergonha diante da seleção colombiana. Quem viu o jogo, assistiu ao show do mesmo velho repertório brazuca, que padece à espera de algum lance brilhante de algum astro, sempre em ascensão mundo afora. Já tivemos — e, talvez, ainda tenhamos — os melhores jogadores do mundo. Garrincha era o terror de toda e qualquer defesa, que se tornava indefesa e inócua diante do bailado do veloz ponta de pernas tortas. Eu poderia ficar dias citando outros exemplos, de Pelé e Didi a Ronaldinho Gaúcho e Romário, e por aí vai. No final das contas, o Brasil sucumbe diante de seleções que somam suas individualidades em nome da coletividade.
Se nosso problema se resumisse ao que acontece em uma partida de futebol, tudo certo. O sentimento de vergonha do torcedor, pasmo, assistindo a tantos pernas de pau batendo cabeça, vai passar. Se bem que tem ainda o jogo contra o Uruguai, no sábado. Fora dos gramados, contudo, quando o assunto é cultura e educação, a Colômbia nos aplica um sonoro 7 a 1. Segue o fio...
Por meio de um convite da Fundação Marcopolo, em abril deste ano, no período que ficará por todo sempre conhecido como AC/DM (Antes da Chuva de Maio), fui conhecer Medellín, outrora célebre por causa do Cartel de Pablo Escobar, uma das cidades mais perigosas e violentas do mundo e, atualmente, modelo em cultura e educação e uma das mais inovadoras do mundo. Inovação, que fique bem claro, não é só tecnologia. É, principalmente, a vocação de solucionar problemas.
Medellín ainda tem seus desafios, é uma cidade com grande desigualdade social — assim como inúmeras de nossa latinoamérica. No entanto, andando por lá eu fiquei pasmo tentando entender qual foi a inovação encontrada por Medellín para sair do patamar de 6.349 homicídios, em 1991, para 389 homicídios, em 2022.
Comparando, segundo o Censo de 2022, Porto Alegre tem 1,3 milhão de habitantes, contra 2,6 milhões de Medellín. Segundo matéria de Zero Hora, “foram 400 mortes em Porto Alegre no período de 2022, somando homicídios, latrocínios, feminicídios, mortes em decorrência de intervenções policiais, além de óbitos de policiais civis e militares”. Ou seja, com o dobro da população, Medellín perdeu 11 vidas a menos do que Porto Alegre, em 2022, por causa da violência.
Andando pelas quebradas de Medellín fica evidente porque, nos últimos 30 anos, a cidade saiu do vale da sombra e da morte para virar exemplo mundial. Não importa o perfil do bairro, o que se vê, principalmente na periferia, são as melhores estruturas, construídas pelos melhores arquitetos do mundo, com serviços de excelência, com atividades, em turno integral, de esporte, lazer, cultura e educação. E tudo o que se vê por lá é criado a partir das necessidades e anseios de cada morador, de cada bairro, porque cada quebrada tem sua identidade e urgência.
E só pra fechar o 7 a 1, em Medellín a gurizada joga bola em centros de treinamento de fazer inveja a qualquer clube social de Caxias ou da Capital. Dia desses eu retomo o assunto.