Até sexta-feira (29) vou publicar aqui na coluna textos de artistas, professores e intelectuais caxienses (nascidos ou que escolheram a cidade para viver). Eles escreveram sobre os destaques nas áreas do cinema, música, literatura, teatro, dança e artes visuais.
Há desde recortes locais, do que foi realizado por aqui, mas alguns deles também quiseram ampliar o foco, trazendo à luz da cena destaques da produção mundo afora.
O convidado de desta terça-feira (26) é o professor e coordenador do Programa de Pós-graduação em Letras e Cultura (UCS), Márcio Miranda Alves. Ele escreve sobre a polêmica envolvendo o escritor Itamar Vieira Júnior e a professora e crítica Lígia G. Diniz, a respeito da obra Salvar o fogo.
Boa leitura!
*A crítica e o espírito do tempo
O campo literário apresentou poucas surpresas neste ano que se encerra. Entre os poucos destaques, a eleição do escritor e ativista ambiental Ailton Krenak para a cadeira número 5 da Academia Brasileira de Letras; a gafe da Companhia das Letras que, por falha no preenchimento dos formulários, teve 28 inscrições inabilitadas a participar do Prêmio São Paulo de Literatura, o concurso literário de maior premiação do Brasil; e o anúncio do retorno ao mercado da CosacNaify, editora que se destacou pela alta qualidade do design de suas publicações e havia encerrado as atividades há oito anos.
Em meio a eventos que dificilmente seriam lembrados numa retrospectiva que não fosse cultural ou literária, o que causou maior alvoroço no meio literário foi a polêmica envolvendo o escritor Itamar Vieira Júnior e a professora e crítica Lígia G. Diniz. Tudo começou com uma crítica negativa da obra Salvar o fogo (2023), escrita por Lígia e publicada na revista Quatro cinco um, em que ela aponta problemas formais no romance de Vieira Júnior, autor também de Torto arado (2019), sem dúvida a narrativa de ficção mais aclamada das últimas décadas no Brasil.
Não vem ao caso analisar os argumentos apresentados por Lígia em sua crítica, sugestivamente intitulada Espírito do tempo. O fato é que, após troca de farpas nas redes sociais, o escritor utilizou a sua coluna no jornal Folha de S. Paulo para afirmar que percebeu racismo na crítica de sua obra. Essa percepção de Vieira Júnior foi endossada por alguns, mas criticada por outros, como o escritor angolano José Eduardo Agualusa, que utilizou outro jornal para contrariar a postura do autor brasileiro. Para Agualusa, ao “classificar qualquer crítico como racista, incluindo pessoas de ascendência africana”, Vieira Júnior “desvaloriza a luta antirracista”.
Essa discussão é um tanto complexa, e por isso merece reflexões cuidadosas, porque envolve as temáticas da literatura brasileira contemporânea e as pautas sociais em evidência em um país dividido. A reação de Itamar Vieira Júnior à crítica de seu segundo romance pode parecer adequada ao “espírito do tempo”, mas abre precedentes bastante perigosos, não apenas para a crítica fundamentada, como também para a própria literatura.
* MÁRCIO MIRANDA ALVES é professor e coordenador do Programa de Pós-graduação em Letras e Cultura (UCS). Autor de “Erico Verissimo e o jornalismo: fontes para a criação literária” (Paco Editorial, 2018).
Lançamentos de autores locais
Segue aqui uma lista dos livros lançados por autores da Serra, que tiveram destaque nas páginas do Pioneiro em 2023:
- “Os ternos de Charlie Parker”, de Marco de Menezes
- “Coletânea de Autores da Serra Gaúcha”, coletânea da Liddo Editora
- “O amor é uma aurora”, de Gilmar Marcílio
- “Contos Divilas”, de Chiquinho Divilas
- “Só e bem acompanhado”, coletânea da Oficina Santa Sede
- “Diário da Castração”, de Tiago Sozo Marcon
- “Rebentação”, de Biba Coelho
- “Quando menos se espera já é março”, de Adriana Antunes
- “Mil Folhas”, de Carlinhos Santos
- “Do Frio que nos Habita” de Luan Zuchi e Marcelo Mugnol
- “Foi um péssimo dia”, de Natalia Borges Polesso
- “Mergulho”, de Volnei Canônica
- “Juventude 110 anos: coração verde e alma jaconera”, de Francisco Michielin
- “Machado de Assis: contos adaptados”, de Frank Tartarus, Adan Marini e Wagner Carsten
- “A história das camisas do G.E Flamengo e S.E.R Caxias do Sul”, de Gustavo Cortês e Jorge Roth
- “Relatos Selvagens de Vila Teta”, de Viviane Pasqual
- “Zumbidos”, “Para Onde Vai, Dona Lesma?”, de Helô Bacichette
- “Quatro Amigos - Aula no Cemitério”, de Helô Bacichette e Sérgio Brandão
- “Todo Mundo Gosta de Sexo”, de Maya Falks
- “Entre Causos e Gaitas”, de Rafael De Boni
- “Espinho de Arraia”, de Roger Mello
- “Literários - Trilogia de Ensaios”, de Marcos Fernando Kirst
- “Uma lição de vida”, de Egui Baldasso
- “Vinho versus Fênix: A Poesia do Vinho no Sul”, de Tatiana Barduco
- “Casa das Histórias”, de Braian Malfatti, Dilacerda, Jader Corrêa, Luan Zuchi, Luciana Lain, Luciano Ribeiro e Oz
Premiações em 2023
- Escritora Adriana Antunes venceu neste ano o prêmio literário Vivita Cartier pela obra "o-Vári(a)s". A Adri é colunista do Pioneiro, escrevendo sempre às terças-feiras. Além disso, é jornalista, psicanalista e professora.
- Os vencedores da 57ª edição do Concurso Anual Literário de Caxias do Sul foram: Tatiana Barduco Rodrigues e Maya Falks, na categoria Contos; Gustavo Tamagno Martins, em Crônicas; e Maya Falks, Lara Guedes Klinger da Silva e Ricardo de Marco Pereira, em Poesia.
- "A araucária e a gralha-azul: uma história dos antigos kaingang", escrito pelo cacique Mauricio Salvador, recebeu a distinção de Melhor Livro para a Infância de 2023 e o selo de Altamente Recomendável, na categoria Reconto, conferido pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).
- Volnei Canônica entrou na lista de recomendações “The White Ravens” que escolhe as melhores publicações infantil e juvenil do mundo. Ele recebeu a indicação por conta de "O Tempo Todo", o segundo livro dele, publicado em 2022.