A partir de nesta quinta-feira (21), até a próxima sexta-feira (29), vou publicar aqui na coluna textos de artistas, professores e intelectuais caxienses (nascidos ou que escolheram a cidade para viver). Eles escreveram sobre seus destaques nas áreas de cinema, música, literatura, teatro, dança e artes visuais em 2023.
Há desde recortes locais, do que foi realizado por aqui na terrinha, mas alguns deles também quiseram ampliar o foco, trazendo à luz da cena destaques da produção mundo afora.
A convidada desta quinta-feira (21) é Gislaine Sacchet, pesquisadora, diretora artística, professora e coreógrafa, que vai nos trazer uma revisão do que ocorreu de melhor na área da dança, segundo a seu olhar apurado.
Boa leitura!
*Como esteve a dança?
A dança, pela característica do acontecimento, teve dificuldades, durante e após a crise sanitária (covid-19). As estratégias online evidenciaram as sensações vividas em formas rápidas, hiperativas e transitórias, possibilitando que no offline fosse o mesmo: nunca seremos os mesmos corpos. Como a dança esteve em 2023?
Tivemos uma retomada na dança-educação com escolas de dança desenvolvendo atividades, projetos e propostas de cena. O Projeto Impulso, que atua com crianças e adolescentes, dirigido por Akácio Camargo, completou 10 anos e foi devidamente homenageado pelo plenário caxiense.
Imbricada em questões sociopolíticas, a dança esteve na Temporada da Cultura Negra, expandindo possibilidades de integração, e na Parada Livre, potencializada pela organização da cena Ballroom na cidade. Ocorreu o encontro setorial da Dança, com discussões pertinentes para a profissão, sua área de estudo e reflexões críticas sobre a mesma. Um ano que direciona novos projetos pelo Financiarte e pela Lei Paulo Gustavo Municipal. Ações essas de resistência, de novas configurações, de sobrevivência.
Algumas cenas ressurgindo, como o Quarta Processos da Cena, que faço parte, com O que Ressoa no Agora..., processo transdisciplinar e com diferentes corpos na cena. A estreia de O Jardim de Roccas, uma instauração que o jornalista Carlinhos Santos descreve como “Uma coleção de informações visuais, de amarrações conceituais, de tramas estéticas no processo de construção de um corpo artístico atravessado por manualidades e atado num entremeio do tempo contemporâneo”. Cristina Lisot dança, como uma “bailarina-tecelã”.
Comemora-se os 25 anos da Escola Preparatória e da Cia Municipal de Dança, sob a coordenação de Paula Giusto. A Cia, voltada para seus documentos, suas memórias, referências e arquivamentos, em processo de remontagem com direção artística da pesquisadora Sigrid Nora. Surge o Núcleo Contato-Improvisação da Serra Gaúcha com práticas de dança por meio de improvisações como ação-pensamento, trocas e aprendizados. Encontros para JAM sessions (Jazz After Midnight), articulados pelo diretor Junior Alceu Grandi.
Ano de continuidade na Casa Fluência com as Danças Urbanas e também com o Segundo RS Boogie, organizado por Fernando Bittencourt. Além disso, surge nesse cenário as cenas de Juliano Vieira, Jet Vianna e do Grupo Restinga Crew, que esteve no Palco Giratório com Cotidiano Urbano, ganhador do prêmio Açorianos, de Porto Alegre.
Parabéns aos envolvidos com a dança caxiense!
*GISLAINE SACCHET, pesquisadora, diretora artística, professora e coreógrafa. Doutora em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora no Ensino Superior, diretora e coreógrafa do Quarta Processos da Cena - Quarta Parede.